Rebeldes etíopes unem forças contra Abiy Ahmed

Aliança de nove grupos contra o governo, com combates quase às portas da capital. EUA pedem a seus cidadãos para saírem.
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Nove grupos rebeldes e da oposição uniram-se ontem numa aliança contra o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, não afastando a hipótese de o derrubarem pela força. "Não há limite para nós. Vamos definitivamente ter uma mudança na Etiópia antes de a Etiópia implodir", disse o ex-chefe da diplomacia e antigo porta-voz da Frente Popular de Libertação de Tigré (TPLF, na sigla em inglês), Berhane Gebre-Christos, na assinatura do acordo, em Washington. Face à escalada do conflito, os EUA apelaram aos seus cidadãos para deixarem o país "o mais rápido possível".

A 4 de novembro de 2020, o governo de Abiy Ahmed (Nobel da Paz em 2019 por ter posto fim ao conflito com a vizinha Eritreia) mandou o exército para a região do Tigré (ou Tigray, no norte da Etiópia) de forma a retirar o poder à TPLF, que acusava de ter atacado bases militares na região. O primeiro-ministro prometeu uma ação rápida e a 28 de novembro declarou a vitória. Mas os combatentes da TPLF, que combateram o regime comunista durante 15 anos, não desistiram e em junho já tinham voltado a assumir o controlo da região.

O governo decretou um cessar-fogo unilateral a 28 de junho e retirou, mas os rebeldes continuaram a avançar, com os combates a alastrar para as regiões vizinhas de Afar e Ahmara. Na segunda-feira, a TPLF anunciou que tinha conquistado as cidades de Dessie e Kombolcha, que ficam a 400 quilómetros da capital, e na quarta-feira que controlava Kemissie, a 325 quilómetros de Adis Abeba.

Em resposta, Ahmed declarou o estado de emergência. E através do Facebook pediu aos etíopes que "prevenissem, revertessem e enterrassem a terrorista TPLF". A mensagem foi mais tarde retirada pela rede social, considerando que violava as regras por incitar à violência. Apesar dos reveses, o governo etíope alega que está à beira da vitória na "guerra existencial" contra os rebeldes. "Este não é um país que se desmorona diante da propaganda estrangeira", indicou o gabinete de comunicação no primeiro aniversário do envio de tropas para o Tigré.

A nova Frente Unida das Forças Federalistas e Confederadas da Etiópia junta a TPLF, que tem estado na linha da frente, com os aliados do Exército de Libertação Oromo (OLA). Os oromo representam o maior grupo étnico da Etiópia. Inclui ainda sete movimentos menos conhecidos "de alcance incerto", segundo a agência de notícias AFP. Trata-se de organizações procedentes de diferentes regiões (Gambela, Afar, Somali e Benishangul) ou etnias (Agaw, Qemant, Sidama) do país.

Face a este cenário, a embaixada dos EUA em Adis Abeba fez um apelo aos norte-americanos. "Recomendamos fortemente aos cidadãos que se abstenham de viajar para a Etiópia e aos que se encontram atualmente na Etiópia para começarem a preparar a sua saída", indicaram no Twitter. A comunidade internacional tem apelado ao fim dos combates, com a ONU a criticar a "brutalidade extrema" que tem marcado o conflito, com denúncias de crimes contra a humanidade de ambos os lados.

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