Rebeca Grynspan defende que Conferência Iberoamericana evolua para Comunidade
"Passamos de uma Cimeira de chefes de Estado, em 1991, para uma Conferência [Iberoamericana], em 2005, quando criamos a Secretaria-Geral Iberoamericana. [A partir desse momento] Já não era só uma Cimeira de Presidentes, mas sim reuniões setoriais de ministros, de Educação, Saúde, Cooperação, Ciência e Tecnologia, Cultura. Hoje, a transição que temos de fazer é passar de uma Conferência a uma Comunidade", disse a costa-riquenha Rebeca Grynspan.
Grynspan, que falava no decorrer da conferência "25 anos de Cimeiras Iberoamericanas - Um olhar sobre o Futuro", que se realizou na Casa da América Latina, em Lisboa, disse que o objetivo é conseguir "uma comunidade que se relacione de uma maneira muito mais simétrica e horizontal".
"Não um bloco na América Latina e outro bloco na Península Ibérica, mas sim uma comunidade de 22 países que se relacionam entre si, de igual para igual, de forma horizontal", salientou.
Em declarações posteriores à Agência Lusa, Grynspan sublinhou que não haverá avanços no relacionamento se os responsáveis políticos continuarem a considerar a América Latina um bloco de países e a Península Ibérica outro bloco de países.
"A América Latina já não pode estar numa relação vertical com os países ibéricos: de alguma forma houve um empoderamento da América Latina, por causa do seu desenvolvimento. É uma Iberoamérica com mais poder, que quer esta relação com Espanha e Portugal. Que a quer desde o século 19. Porque se trata de manter os vínculos, superando o passado colonial", afirmou a responsável à Lusa.
Questionada sobre se os parceiros europeus de Portugal e Espanha (nomeadamente na União Europeia) poderiam ver com desconfiança esse relacionamento reforçado dos países ibéricos com a América Latina, Rebeca Grynspan desdramatizou, convidando os restantes países europeus à juntarem-se como observadores.
"Convido-os a que se juntem à Conferência Iberoamericana como observadores. A França, a Itália, a Bélgica e a Holanda já são observadores. E outros países já o pediram: como o Luxemburgo. Oxalá se sigam outros países europeus", disse.
Rebeca Grynspan recordou ainda o percurso de 25 anos da Conferência Iberoamericana, desde a primeira cimeira, em 1991, em Guadalajara (México), "uma época em que o Muro de Berlim tinha caído há pouco tempo, em que ainda não havia Tratado da União Europeia" e as democracias latino-americanas eram "incipientes", muitas saídas de ditaduras recentes.
"Em 1991, Espanha e Portugal representaram um terço do PIB da América Latina. Agora representam um quinto. Hoje a América Latina alberga três países do G20. (...) Há 25 anos, a economia da China representava 19% do PIB da América Latina. Hoje é 66% maior do que o conjunto das 22 economias da América Latina e converteu-se no segundo maior parceiro comercial da região", descreveu a Secretária-Geral Iberoamericana.
A nível social, em 1991 quase metade da população da América Latina estava abaixo da linha de pobreza e hoje essa percentagem baixou para 28%.
"A arquitetura social da América Latina mudou radicalmente nos últimos 25 anos. (...) E dois terços dos países da América Latina estão na categoria de desenvolvimento humano 'alto' ou 'muito alto'", concluiu.