Ramadão

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Ramadão é o quarto pilar do islão e o nono mês do calendário islâmico. Diz a palavra de Deus, plasmada no Alcorão, que o Ramadão é o mês em que as portas do paraíso se abrem e é um mês de graça e de bênçãos, no qual as misericórdias de Deus se estendem sobre a terra.

Etimologicamente deriva do termo árabe ramida, que significa "ser ardente", i.e. simbolicamente o Ramadão permite abrasar os pecados com boas obras.

Os muçulmanos jejuam: abstêm-se de comer, fumar, beber, praticar relações, enquanto dura o dia, comendo frugalmente após o pôr do sol.

O jejum pratica-se em razão de várias crenças, quer sejam estas de ordem política, moral, medicinal e sobretudo religiosa, aliás não sendo o islão a única religião do livro que impõe sacrifícios e interdições alimentares.

Os fins do jejum obrigatório são sobretudo quatro: I) sentir a omnipresença de Deus; II) o ensino do autodomínio; III) passar voluntariamente o sacrifício que outros passam por força da necessidade; IV) purificação espiritual - ritual simbólico de renúncia às necessidades mundanas e foco na espiritualidade.

O que faz então que, ao contrário da tendência dominante no Ocidente, em que a secundarização da religião é comum, o islão seja tão sedutor, pedindo aos fiéis o sacrifício da fome, durante todo o dia, com êxitos notáveis?

Esta dimensão mística do Ramadão assenta sobretudo em três fatores: primeiramente, o conteúdo da mensagem é intemporal, imutável e absoluto, logo mais forte - as regras são as mesmas de há 1400 anos atrás.

Segundo, a prática é diária e formalista, existindo uma espécie de renovação espiritual constante quotidiana e o rigor pelo cumprimento das fórmulas confere eficazmente outra força e firmeza à prática e por conseguinte à fé, não a esvaziando.

Se a isto juntarmos uma liderança forte, com um timoneiro, usando o vernáculo náutico, que nos diga para onde vamos e o que queremos alcançar, teremos um de dois resultados possíveis: muçulmanos descomplexados e plenamente assimilados do ponto de vista cultural e não menos religiosos ou um cocktail explosivo que origina as barbáries com que por vezes somos confrontados, donde relevam sobretudo a ilusão e a liderança medíocre.

Acrescente-se o pormenor científico que não é indiferente: o jejum é hoje recomendado com fins medicinais, existindo teorias que com- provam o seu auxílio na cura de doenças e patologias, designadamente a diabetes, gota, tromboses e artrites.

No plano da experiência pessoal deverá dizer-se que o Ramadão atrai, também por ser exigente. Porque é que partimos do pressuposto de que ninguém aceita grandes exigências, especialmente em contexto religioso?

Apesar do início ser custoso, quando se ultrapassa a mítica "barreira da fome", extraem-se dali amplos benefícios do ponto de vista espiritual, alimentando a alma. Portanto o Ramadão deve ser encarado como um pacote, no qual não são dispensáveis a oração e a recitação do Alcorão (revelado neste mês). Àqueles que me perguntam "como aguentas?" digo, sem hesitar: "A fé é capaz de feitos incríveis!"

Momento ideal para a reconciliação, para a união e valorização familiar, correção pessoal e caridade, é tempo de os fiéis se encherem de jubilo e dar a alguém que tenha sido esquecido um lugar nos seus corações.

De comum com o cristianismo a ideia de que a renúncia é um caminho para a libertação. Numa comparação algo infeliz, é o nosso Natal.

Que o Ramadão de 2018 cultive no coração de cada um de nós as sementes próprias deste mês: a da Paz, do Amor e da União. Ámen.

Vogal da Direção da Comunidade Islâmica de Lisboa

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