Rallycross arrancam mais rápido do que os Fórmula 1
Em julho, um protótipo desenvolvido por estudantes do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique e da Universidade de Artes e Ciência Aplicada de Lucerna entrou para o Guinness, ao conseguir que um carro fizesse 1,513 segundos dos 0 aos 100 km/h. Mas o Grimsel, assim se chama o protótipo, não entra em competições de automobilismo. Em provas oficiais as máquinas mais rápidas não são os Fórmula 1 nem as bombas de Le Mans. São os carros de Rallycross, modalidade em que corre o francês Sebastien Loeb, nove vezes campeão do mundo de ralis, recordista de vitórias, pódios e pontos.
O Peugeot 208 de Sebastien Loeb, assim como alguns bólides desta modalidade (potentes carros de rali melhorados que correm em pista) cuja primeira etapa neste ano foi realizada em Montalegre, atinge os 100 km/h em apenas 1,9 segundos, menos tempo do que o leitor demorou a ler as duas primeiras linhas deste parágrafo.
Só para se ter um ponto de comparação, um carro de Fórmula 1 demora 2,5 segundos a chegar aos 100 km/h, o mesmo tempo das MotoGP. A grande vantagem dos Rallycross está no potente motor de 600 cavalos e sobretudo no facto de estes carros terem tração às quatro rodas e um desenvolvimento muito curto de mudanças. Condições que lhe permitem igualmente ser mais rápidos na aceleração dos 0 aos 100 km do que, por exemplo, o Porsche 919 Hybrid que ganhou as 24 Horas de Le Mans (2,2 segundos) ou que o Volkswagen Polo WRC, tricampeão do mundo de ralis (3 segundos).
"Além da tração às quatro rodas e de uma caixa de velocidades muita curta, o peso também ajuda. São carros superleves, com o máximo de 1200 quilos, o que possibilita atingir essa velocidade no arranque. Mas atenção que não são todos os carros, só mesmo os melhores. Mas não podem ser comparados aos Fórmula 1 nem pouco mais ou menos, pois só chegam aos 180, 182 quilómetros/hora de velocidade máxima [na Fórmula 1 rodam a mais de 350 km/h]", explicou Mário Barbosa ao DN, piloto desta modalidade que neste ano só participou em duas provas mas que no ano passado, em Montalegre, alcançou um brilhante segundo lugar num Citroën DS3.
Mário Barbosa nunca passou pela experiência de acelerar o carro e em 1,9 segundos atingir os 100 quilómetros/hora. Mas explica que para isso é preciso recorrer a um mecanismo: "Se acelerarmos logo à rotação máxima (9500), o carro fica com as rodas a patinar. Para isso é preciso acionar o launch control, um sistema elétrico que controla a rotação no arranque."
O piloto português diz que não há adrenalina igual ao conduzir um destes carros. "É sempre no máximo! No arranque pode atingir uma força 3g se puxarmos pelo carro. E é tão impressionante no arranque como na travagem. Confesso que sempre senti algum receio de acelerar à saída das curvas, mete um bocado de medo. Estamos a falar de um carro com 600 cavalos de potência", diz.
Mário Barbosa considera que o circuito português de Rallycross "é muito fraquinho", mas garante que a nível internacional a dimensão desta vertente do automobilismo está a assumir cada vez mais destaque. "Já existem equipas de fábrica e depois ter nomes como Loeb e Solberg a competir chama muito mais a atenção. Mas não me espanta que corram no Rallycross. Quem experimenta não quer outra coisa. São carros superpotentes, muito mais desenvolvidos do que os carros de rali. Têm muito mais potências, melhores suspensões. Aliás, o campeonato está ao rubro (é liderado pelo sueco Mattias Ekström, logo seguido de Petter Solberg e Johan Kristoffersson; Loeb é quinto classificado)."