Rajoy volta a falhar e ganha força possibilidade de terceiras eleições

O resultado foi igual ao de quarta-feira. Líder do Partido Popular recebeu 170 votos a favor e 180 contra. Se até 31 de outubro ninguém conseguir reunir apoios para formar governo, o rei está obrigado a dissolver o Parlamento
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Ninguém se mexeu do sítio. A partir do seu lugar na bancada do Parlamento, todos os deputados espanhóis voltaram a repetir os mesmos nãos e os mesmos sins de quarta-feira. Mariano Rajoy, líder do Partido Popular, voltou a chumbar na sessão de investidura. Do seu lado estiveram mais uma vez 170 parlamentares: 137 do PP, 32 do Ciudadanos e o único representante da Coligação Canária. Contra si, os mesmos 180 votos de todos os outros deputados. Pedro Sánchez manteve-se firme no não do PSOE. E mais uma vez não houve abstenções.

E agora, Espanha? Terceiras eleições legislativas em apenas um ano? Esse, segundo a generalidade da imprensa e dos analistas, é o cenário mais provável. Mas ainda faltam quase dois meses para ser um dado garantido que os espanhóis serão obrigados a regressar às urnas. Em política 60 dias é muito tempo e pelo meio, a 25 de setembro, há eleições regionais na Galiza e no País Basco que podem fazer alterar as regras do jogo. A única certeza é que se até 31 de outubro nenhum candidato tiver conseguido reunir os apoios suficientes para ser investido, não restará ao rei Felipe VI outra alternativa que não seja dissolver o Parlamento e convocar eleições.

Pelos prazos constitucionais, o sufrágio seria a 25 de dezembro, mas, em princípio, os principais partidos estão de acordo em fazer passar uma lei encurtando o período de campanha eleitoral de duas para uma semana. Nesse caso, as eleições serão a 18 de dezembro e não no dia de Natal.

No debate de ontem que antecedeu a votação, Albert Rivera pediu desculpa ao Parlamento por ter falhado na mediação entre PP e PSOE. "Peço-lhes perdão por não termos sido capazes de fazer com que estes dois velhos partidos chegassem a acordo", disse o líder do Ciudadanos.

Pedro Sánchez manteve-se entrincheirado no não. E, com a dureza das críticas a Rajoy, fica a ideia de que o secretário-geral dos socialistas pode ter entrado num beco sem possibilidade de uma saída airosa. "Parece-me que está encurralado e ainda não sabe o que vai fazer", dizia nesta semana ao DN Lola Garcia, diretora-adjunta do La Vanguardia.

As eleições na Galiza e no País Basco podem fazer mexer as peças, principalmente se o PSOE sofrer um mau resultado. Nesse caso, perante um Sánchez mais enfraquecido, o partido poderia decidir, reunindo o Comité Federal, mudar de estratégia e, através da abstenção, permitir a investidura de Rajoy numa segunda tentativa do líder do PP.

Cristóbal Herrera, analista político da empresa Llorente y Cuenca, ouvido pelo DN, não acredita nessa possibilidade. "Depois das eleições de 25 de setembro pode abrir-se um período de reflexão impulsionado por algum líder regional, mas continua a ser improvável uma mudança de postura porque isso implicaria uma divisão interna insolúvel. O rival do PSOE sempre foi o PP e ao longo dos anos geraram-se demasiados anticorpos. Muitos não entenderiam que Rajoy pudesse liderar um governo graças aos socialistas", explica o especialista.

Tentará Sánchez formar um governo alternativo? "Se trabalharmos todos juntos encontraremos uma solução e que não restem dúvidas de que o grupo parlamentar socialista formará parte dessa solução", afirmou o secretário-geral do PSOE durante o debate de ontem. O El Mundo entende que esta frase é a prova de que Sánchez tentará esse caminho, mas o problema volta a ser a matemática.

"É possível que cheguem a um acordo com o Podemos. No entanto ainda lhe faltariam apoios e esses passam por dois fatores impossíveis neste momento: que o Ciudadanos aceite um pacto de governo que inclua o Podemos, ou que o PSOE aceite as exigências de referendo dos partidos independentistas. A aritmética é tão complexa para o PSOE como para o PP", resume Cristóbal Herrera. A menos que algo mude, Espanha poderá estar irremediavelmente a caminho das urnas.

Os três cenários

1 - Mariano Rajoy, do PP, volta a tentar uma nova investidura

"O senhor chegou aqui há pouco tempo, mas os nossos partidos sempre foram aliados imprescindíveis para as grandes questões", disse ontem Mariano Rajoy a Pedro Sánchez, durante o debate de investidura. Desde as eleições de 20 de dezembro de 2015 que a solução de governo preferida do líder do Partido Popular passa por um bloco central com o PSOE. Mas não conseguiu seduzir o secretário-geral dos socialistas. Resta saber se Felipe VI voltará agora a incumbir Rajoy de formar governo e se este aceitará o encargo. O líder dos populares sempre se mostrou reticente em avançar para a investidura sem os apoios garantidos. Parece difícil que os vá conseguir. Mesmo que repita o pacto de legislatura com o Ciudadanos e seja capaz de arregimentar os cinco deputados do Partido Nacional Basco - o que neste momento não parece simples - ficaria a um da maioria. Não está fácil a matemática para Rajoy. E depois das intervenções de Sánchez nesta semana os dois principais partidos parecem cada vez mais afastados de um possível aperto de mão.

2 - Pedro Sánchez convence o rei Felipe VI de que pode conseguir

Tendo em conta que Pedro Sánchez tudo fez para impedir a investidura de Rajoy e que, ao mesmo tempo, garante que não quer terceiras eleições, é difícil excluir a hipótese de que o secretário-geral do PSOE está a pensar numa qualquer fórmula aritmética para chegar ao governo. O Podemos, de Iglesias, tem repetido os apelos para que Sánchez abra os braços a um possível acordo entre os dois. Ainda assim, o PSOE e a coligação Unidos Podemos somam apenas 156 deputados, ficando a faltar 20 para a maioria. Seria necessário o apoio do Ciudadanos e neste momento não parece simples ver Iglesias e Rivera de mãos dadas. A outra hipótese seria o PSOE chamar a si os votos dos partidos regionais e independentistas, mas estes só lhe dariam o apoio mediante a promessa de referendos de soberania para as suas regiões. A garantia da integridade territorial espanhola faz parte do ADN do PSOE e essa é uma linha vermelha que o partido já garantiu que não quer pisar. Neste momento e com a atual colocação das peças no xadrez político espanhol, este cenário parece meramente hipotético e de muito difícil viabilidade.

3 - Espanha volta a ir às urnas pela terceira vez em apenas um ano

Se até 31 de outubro nenhum dos líderes partidários conseguir reunir os apoios suficientes, o rei Felipe VI está constitucionalmente obrigado a dissolver o Parlamento e a convocar novas eleições. Pelos prazos constitucionais, a consulta popular seria a 25 de dezembro, mas tudo indica que a campanha eleitoral será encurtado numa semana e que as legislativas terão lugar no dia 18. É quase impossível prever se o resultado das eleições permitiria desbloquear a situação de impasse político que Espanha vive desde 20 de dezembro de 2015. "A tendência de 26 de junho [data do último sufrágio] pode acentuar-se: Ciudadanos e Podemos baixam, o PP sobe e o PSOE mantém os apoios. Em junho, o bloco formado por Rajoy e Rivera cresceu seis deputados. Com uma subida idêntica já teriam maioria para formar governo", explica ao DN o politólogo Cristóbal Herrera. Neste cenário, Sánchez ficaria livre do peso de ter sido ele a viabilizar um governo do PP, mas, depois de ter obtido os dois piores resultados de sempre do PSOE nas duas últimas eleições, poderia ser forçado a abandonar a liderança socialista.

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