Radiografia, diagnóstico e receita
Os portugueses têm uma relação ambígua com as funções do Chefe do Estado. Durante praticamente toda a sua História, não tinham nada a ver com isso, eram colocados perante um facto consumado. Quando, finalmente, podem eleger o Presidente da República, não sabem o que querem dele: ou não deve fazer nada, para não perturbar a liberdade de acção dos partidos; ou deve fazer tudo, para denunciar e expulsar os "vendilhões do templo". Começaram por eleger um Presidente com poderes efectivos, o mais importante dos quais era a relação de confiança política com o Governo. Mas preferiram eleger um Presidente que apenas tivesse o poder de assegurar o regular funcionamento das instituições democráticas: está autorizado a fazer radiografias, mas só o ouve quem quer. E assim se chegou ao mistério da política portuguesa: há dez milhões de vítimas, mas não se apresenta um só suspeito do crime. É a este mistério que responde este sétimo prefácio dos Roteiros de Cavaco Silva. Aqui está radiografia, diagnóstico e receita, que tanto serve para o Governo como para os que, na oposição, se candidatam a governar. Só não serve para os que insistem nas receitas que provocaram e agravaram a doença fatal.