Quim Barreiros mal criticado

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Vai para aí uma onda de protestos contra uma cantiga do novo disco de Quim Barreiros. "Homofóbica", "discriminatória", diz-se dela. A cantiga chama-se Casamento Gay e se há erro a apontar-lhe, digo eu, vem logo no título. Quim Barreiros habituou-nos a sentidos marotos e - esperto como se adivinha pelo chapéu deitado para nuca - fez da malícia o seu fundo de comércio. Os seus títulos não valem pelo que dizem mas pelo que sugerem. N'A Garagem da Vizinha sabemos que não estaciona automóvel, nem em "Quero cheirar teu bacalhau" há prato com o fiel amigo. Ora esse piscar de olho, que era a marca do artista, apaga-se quando ele chama Casamento Gay a um casamento gay (ou a ideia que ele faz de um casamento gay). Quando soube que activistas de associações chamadas "Não te prives" e "Panteras Rosas" - também elas adeptas, pareceu- -me pelos seus nomes, do uso da língua como uma arte - criticaram o disco de Quim Barreiros, tresli. Supus que a crítica era, digamos, literária, supus que fosse um lamento pela perda da imaginação nas palavras do cantor. Mas não, aquelas associações pelos direitos dos homossexuais não ligaram ao título da cantiga (lá não constam palavras proibidas). Criticam, sim, na letra, os termos "maricas", "paneleiro" e "panasca", porque são "discriminatórias". Fraca luta, essa, contra palavras.

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