"Quero bater o recorde do Manoel de Oliveira e do Fernando Pessa"
Estreou-se na RTP a 16 de janeiro de 1960, há quase 56 anos, ganhou na altura 200 escudos de cachê e desde então não mais parou. Ao longo de 384 páginas, Júlio Isidro desfia a história da sua carreira e da sua vida na autobiografia O Programa Segue dentro de Momentos, que foi apresentada ao final da tarde de ontem, no Teatro da Trindade, em Lisboa, e que reuniu familiares, amigos e vários colegas de profissão.
"Seja menos formal ou correto do ponto de vista técnico, o que é importante é que haja gente dentro da televisão para chegar gente a casa das pessoas. E é isso que eu tenho feito ao longo da vida", aponta o comunicador como uma das razões do sucesso da sua carreira. "Agora, quero bater o recorde do Manoel de Oliveira e do Fernando Pessa", brincou, recordando a longevidade de carreira do jornalista e do cineasta.
No evento de apresentação da obra, Júlio Isidro, que completa 72 anos de vida já no próximo dia 5 de janeiro, ouviu as palavras de Marcelo Rebelo de Sousa, deixadas em vídeo, e "um dos gestos mais simpáticos" que "algum dia poderia ter recebido". "A vida de Júlio Isidro é a vida da televisão portuguesa. Começou em 1960, praticamente depois do período experimental da RTP, e acompanha-nos nestes últimos 56 anos. Homenagear Júlio Isidro através da sua autobiografia é homenagear a televisão em Portugal", disse o Presidente da República "em nome de todos os portugueses". "Quem o diz também é o telespectador, que nunca perdeu aquilo que de fundamental o Júlio Isidro fez. E não perde. E está-lhe muito grato", acrescentou.
Júlio Isidro aproveitou a ocasião para recordar que foi o "funcionário precário mais antigo do país". "Nunca fui funcionário da RTP. Nunca. Sempre recebi consoante o trabalho (...). Contratos a 13 semanas, a programas avulso, e, de repente, esta administração [liderada por Gonçalo Reis] tem para comigo qualquer coisa que estabilizou as hostes lá em casa: um contrato de dois anos", frisou o apresentador.
No evento, onde também existiu espaço para um sarau, marcaram presença personalidades como Nuno Artur Silva, Paulo de Carvalho, António Pinto Basto, Serenella Andrade e Maria José Valério e ainda a mulher, Sandra Barros, e as filhas Mariana e Francisca.
"O Júlio é um ser humano espetacular e será ele o exemplo para esta gente que começa. Ele é um grande apresentador e um homem da cultura, mas é acima de tudo uma pessoa que nasceu para proporcionar o bem às pessoas", realçou Maria José Valério sobre Júlio Isidro. "Ele nasceu para comunicar e para as pessoas saberem como se faz TV em Portugal", completou.
Também Serenella Andrade fez questão de assistir ao lançamento da autobiografia do apresentador da RTP, apontando-lhe várias "qualidades além das que já lhe são conhecidas enquanto profissional". "O Júlio é genuíno, humilde, tem a capacidade de se renovar e de nos surpreender. Ele está bem com qualquer tipo de público e de amigo", enumerou a colega.
Numa nota de agradecimento escrita na sua autobiografia, Júlio Isidro dirige-se "aos ouvintes e espectadores que ao longo de mais de meio século" acompanharam o seu trabalho, sem se esquecer das "mulheres" da sua vida e de quem o ajudou neste projeto.
O prefácio de O Programa Segue dentro de Momentos foi escrito por Baptista-Bastos, que Júlio Isidro apelida de "um dos jornalistas mais brilhantes, escritor comprometido com a estética e com a ética". Sobre o apresentador, Baptista--Bastos refere: "Este homem sorridente e seguro conseguiu driblar as atenções dos senhores do momento, estava o 25 de Abril em estado caótico, e levar à televisão vozes dissidentes e opiniões por vezes decisivas", pode ler-se nas páginas da autobiografia do apresentador, atualmente à frente do programa de entrevistas Inesquecível, que é transmitido na RTP Memória.
Além das histórias, que são contadas na primeira pessoa, o livro também contém várias fotografias de momentos que marcaram a vida profissional e pessoal de Júlio Isidro: a família, a infância, o percurso académico, a juventude, a estreia na televisão, a rádio, o primeiro carro, entre outros.
Júlio Isidro também recorda os artistas de todas as áreas com quem se cruzou ao longo de mais de meio século de carreira, tais como Sónia Braga, Debbie Allen, Patrick Duffy, Maria de Lourdes Modesto, Eunice Muñoz, Herbert Pagani, Dustin Hoffman, Jô Soares ou Beatriz Costa.