Quer publicitar produtos para supremacistas brancos? O Facebook deixa
O Facebook aceitou anúncios que tinham como destinatários supremacistas brancos e pessoas que acreditam em falsas "teorias de conspiração do genocídio branco", denunciou o site The Intercept. Só quando confrontada com esta prática, a empresa excluiu aquela categoria de anúncios.
Mais grave ainda: o Facebook estava a aceitar anúncios deste tipo poucos dias depois de um supremacista ter assassinado 11 judeus, reunidos numa sinagoga em Pittsburgh (EUA), em 27 de outubro de 2018. Segundo a investigação federal, Robert Bowers planeou o atentado terrorista aparentemente alimentado pelo antissemitismo e pela falsa narrativa de que forças exteriores estão a planear exterminar a "raça branca".
É este falso "genocídio branco" que o Facebook aceitava como possível alvo de anunciantes. Segundo a investigação de The Intercept, o Facebook vendeu aos anunciantes a capacidade de promover produtos junto daqueles que têm interesse nesse mito poucos dias depois do derramamento de sangue em Pittsburgh.
Para quem está de fora, é difícil perceber exatamente como o Facebook decide quem entre seus dois mil milhões de utilizadores pode encaixar-se no grupo de interesse com esta categoria - "genocídio branco" ou qualquer outro grupo disponível para "segmentação detalhada".
A documentação da empresa é muito vaga em detalhes, afirmando apenas que esses grupos se baseiam em indicadores como "páginas com as quais os utilizadores se envolvem" ou "atividades que as pessoas realizam dentro e fora do Facebook relacionadas com coisas como o uso do dispositivo, comportamentos de compra ou intenções e preferências de viagem".
As pessoas agrupadas num conjunto de "teoria da conspiração do genocídio branco" podem não ser, de facto, verdadeiras crentes nestas mentiras - segundo a informação do site - podem ter interagido apenas com conteúdo crítico desse mito, como uma reportagem, uma verificação de factos ou mesmo uma investigação académica sobre o assunto.
As pessoas agrupadas num conjunto de "teoria da conspiração do genocídio branco" podem não ser, de facto, verdadeiras crentes nestas mentiras, podem ter interagido apenas com conteúdo crítico desse mito
Há pouco mais de um ano, outro site de jornalismo de investigação, o ProPublica noticiava que "a maior rede social do mundo possibilitou aos anunciantes direcionar os seus produtos para feeds de notícias de quase 2 300 pessoas que manifestaram interesse em tópicos como 'judeu hater', 'como queimar judeus' ou 'por que os judeus arruínam o mundo'".
Como recordou The Intercept, na altura o Facebook garantiu "que iria explorar maneiras de resolver o problema, como limitar o número de categorias disponíveis ou examiná-las antes de serem exibidas aos anunciantes". E à época, Rob Leathern, gestor de produto do Facebook, assegurou ao público: "Sabemos que temos mais trabalho a fazer, por isso também estamos construindo novas grelhas de proteção dos nossos produtos e revemos os processos para evitar que outros problemas como esse aconteçam no futuro."
Agora, os jornalistas do Intercept confirmaram que os problemas continuam a acontecer: o Facebook aprovou "manualmente" a compra do nosso anúncio no mesmo dia em que foi enviado, apesar de uma classificação explícita pedida como "White Supremacy - Test" [Supremacia Branca - teste].
Esta sexta-feira, na Nova Zelândia, um indivíduo supremacista branco lançou um ataque terrorista contra duas mesquitas na cidade de Christchurch, matando 49 pessoas e ferindo outras 48, e transmitiu em direto no Facebook parte dos ataques.
Foi também nesta rede social que Brenton Tarrant, australiano de 28 anos - o homem que surge no vídeo e que o primeiro-ministro do Governo da Austrália, Scott Morrison, descreveu como "terrorista de extrema-direita" - publicou o seu manifesto racista. A rede social prometeu apagar todas as partilhas do vídeo do terrorista.