Quem sucede a Bolt?
Atleta jamaicano, de 30 anos, vai abandonar em agosto nos Mundiais que se realizam em Londres e a discussão em torno da sua sucessão já começou. Para trás fica um legado único de três recordes mundiais - 9,58s nos 100 metros, 19,19 nos 200 metros e 36,84 na estafeta 4X100 metros - e oito medalhas de ouro em Jogos Olímpicos
Andre De Grasse
Andre De Grasse é, de acordo com o próprio Usain Bolt, o principal favorito à sucessão do jamaicano no trono dos velocistas. Filho de pai de Barbados e de mãe de Trinidad e Tobago, o canadiano de 22 anos resgatou a reputação perdida pelo Canadá nas provas de velocidade, tornando-se inclusivamente o primeiro sprinter daquele país e conquistar três medalhas nos mesmos Jogos Olímpicos. No Rio 2016, arrecadou o bronze nos 100 metros ao bater o recorde pessoal (9.91s), a prata nos 200m (19,80) e novamente o bronze nos 4x100m. "Vai ser bom. Corre como eu. Com isto quero dizer que ele é lento na saída, tal como eu, e recupera depois", chegou a afirmar o próprio Bolt, acerca de um jovem atleta que há dois anos levou o bronze para casa nos Mundiais de Pequim. "Penso que Bolt me sente como o sucessor dele e tento dar-lhe razão", atirou De Grasse, um dos favoritos às medalhas nos Mundiais de agosto, que se vão realizar em Londres. O próprio canadiano está confiante de que até nem terá de esperar pela retirada de Bolt para chegar ao topo, pois acredita que pode batê-lo na capital britânica. "Estou a preparar-me para ganhar. Tenho uma grande oportunidade e quero aproveitá-la. Sinto que tenho hipóteses nas duas provas - 100 e 200. Se conseguir fazer a minha corrida e estiver na melhor forma, sinto que o consigo fazer", rematou.
Yohan Blake
Jamaicano tal como Bolt, Yohan Blake é quem o melhor de sempre gostava de ver como nº 1. "Espero que seja o Yohan Blake, que já provou que pode ser enorme e é jamaicano, mas o Andre De Grasse vai ser um grande atleta. Queria que fosse um jamaicano, mas...", chegou a afirmar o recordista mundial, acerca do compatriota de 27 anos, ainda que temendo a concorrência feroz. Blake tem a particularidade de ter levado para casa o único ouro que escapou a Bolt nos 100 metros desde 2008, quando se sagrou Campeão Mundial em 2011, na cidade sul-coreana de Daegu, aproveitando uma desclassificação do compatriota para se tornar o mais jovem vencedor do título da história da especialidade: 21 anos e 245 dias. Contudo, Blake, que tem como melhores registos os 9,69s aos 100 metros (terceira melhor marca de sempre) e os 19,26 aos 200 (segunda melhor marca, a sete centésimos do recorde de Bolt), tem sofrido diversas lesões nos últimos quatro anos, problemas que o impediram de participar nos derradeiros mundiais, de Moscovo (2013) e Pequim (2015). Nos Jogos do Rio de Janeiro, foi apenas quarto classificado nos 100 metros e não se qualificou para a final dos 200, ainda que tivesse arrecadado o ouro na estafeta 4x100, ao lado de Bolt, Asafa Powell e Nickel Ashmeade. Se for capaz de recuperar a melhor forma, será um forte candidato à sucessão.
Wayde van Niekerk
A forma como nos Jogos do Rio de Janeiro bateu um dos mais emblemáticos recordes do mundo - o dos 400 metros, que durava desde o século passado (1999) na posse do lendário Michael Johnson - atirou Wayde van Niekerk para a linha da frente na sucessão a Usain Bolt como a próxima grande figura da velocidade no atletismo mundial. O sul-africano não é um sprinter puro da distância mais curta, mas o seu talento extraordinário permite-lhe ser o único homem capaz de correr abaixo dos 10 segundos aos 100 metros, dos 20 aos 200 metros e dos 44 aos 400. Na semana passada, Niekerk acrescentou mais um feito ao currículo e voltou a bater um recorde histórico de Michael Johnson, desta vez na rara distância dos 300 metros, que o sul-africano correu em 30,81 segundos, em Ostrava. Aliás, no mês de junho melhorou também os seus recordes pessoais dos 100 (9,94) e dos 200 metros (19,84), aquecendo os motores para os mundiais de agosto, em Londres, onde se propõe a emular mais uma vez os feitos de Johnson, tentando a histórica dobradinha nos 400 e nos 200 metros. Niekerk não fez segredo de que olha agora para o recorde de Bolt nos 200 metros (os quase irreais 19,19 segundos) e desafiou até o jamaicano para um duelo em Londres, que poderia simbolizar uma passagem de trono. Mas Bolt esquivou-se ao risco e decidiu que a sua despedida das pistas, nos mundiais, far--se-á apenas nos 100 metros, onde o sul-africano não é, para já, uma ameaça.
Christian Coleman
Irrompeu como uma bala até ao topo da lista mundial do ano nos 100 metros quando, nas meias--finais dos campeonatos universitários dos Estados Unidos, fez 9,82 segundos e bateu o recorde da competição. O jovem de 21 anos, atleta da Universidade do Tennessee, já estava referenciado como uma das grandes promessas da velocidade dos EUA, tendo até feito parte da estafeta de 4x100 metros que esteve nos Jogos do Rio, mas os 9,82 registados em Eugene colocam-no na elite mundial. É, de resto, o único a ter corrido o hectómetro abaixo dos 9,90 esta época. O tempo obtido por Coleman nos campeonatos universitários fazem dele já o quarto melhor de sempre nos EUA, nos 100 metros - apenas atrás de Tyson Gay (recordista americano, com 9,69), Justin Gatlin (9,74) e Maurice Green (9,79) - e o nono melhor de todos os tempos. Nos recentes campeonatos norte-americanos absolutos, que serviram de seleção para os próximos mundiais de Londres, em agosto, Christian Coleman ficou a três centésimos do seu primeiro título de campeão dos EUA, perdendo para Justin Gatlin, mas deixou evidente que está preparado para a sucessão ao seu mentor como homem mais rápido da América. "Ele parece o meu reflexo ao espelho", elogiou Gatlin. Coleman apurou-se para os mundiais também nos 200 metros, distância na qual, de resto, detém também a segunda melhor marca do ano: 19,85, também nos campeonatos universitários deste ano, apenas um centésimo atrás do sul-africano Wayde van Niekerk. "O céu é o meu limite", diz Coleman. O mundo aguarda para ver.
Akani Simbine
O mundo conhecia o talento de Akani Simbine desde que fixou o recorde sul-africano dos 100 metros, em 2015 (entretanto melhorado para 9,89 segundos), e mais ciente do seu potencial ficou quando o velocista arrancou um 5.º lugar na final olímpica da distância, no Rio 2016 (apenas atrás de Bolt, Gatlin, De Grasse e Blake). No entanto, o verdadeiro momento de afirmação do sul-africano, de 23 anos, chegou em maio, na etapa de Doha (Catar) da Liga Diamante, onde alcançou uma confortável vitória sobre nomes consagrados (e de currículos bem mais ricos) como Justin Gatlin, Andre De Grasse, Asafa Powell e Kim Collins. "Esta vitória significa muito, porque marca o tom do resto da temporada. Correr a distância em 9,99 segundos contra este vento diz muito sobre o estado de forma de Akani. Significa que estamos perto da posição de pódio que queremos no Mundial", destacou, então, o treinador de Simbine, Werner Prinsloo. A candidatura do atleta sul-africano, estudante de Ciências da Informação na Universidade de Pretória, é clara: Akani Simbine tem três das dez melhores marcas do ano (9,92, 9,93 e 9,95), sendo só superado por Christian Coleman e Yohan Blake. E aponta, claro, à sucessão de Bolt. "Vai surgir uma oportunidade quando ele sair e eu estou aqui para tentar agarrar essa vaga. Acredito em mim e no meu talento para vencer outros grandes nomes", afiança o atleta sul-africano.