Quem paga o mono?
O sistema financeiro português está ainda longe de ter os seus principais problemas resolvidos. São precisos milhares de milhões euros para cumprir rácios de capital e o crédito malparado continua a ser um peso insuportável para um sector que, assim, cumpre mal a função de financiar a economia. O resgate, que os banqueiros foram os primeiros a pedir, salvou o Estado e esqueceu-se do sistema financeiro. Fizemos de conta que tínhamos os melhores bancos do mundo e hoje ninguém pode garantir que não precisemos de ajuda externa para resolver este problema. Com os actuais accionistas dos bancos que operam em Portugal incapazes de estarem, quase em permanência, a fazer aumentos de capital, só a chegada de novos investidores, vindos de qualquer parte do planeta, pode evitar essa intervenção. A situação dos bancos é tão frágil, que a disparatada discussão sobre a espanholização da banca é chão que deu uvas.
Não deixa de ser irónico que o governo do PS, suportado pelo PCP e pelo Bloco, tenha na salvação do sistema financeiro a sua principal preocupação. Nada parece ter tanta urgência e nada escapa tanto ao controlo governamental, com a independência do Banco de Portugal, o poder do Banco Central Europeu e a discricionariedade da Direcção-Geral da Concorrência europeia, que procura impedir, por exemplo, que o accionista Estado possa fazer o necessário aumento de capital na CGD. Se a Concorrência é tão avessa a um aumento de capital feito pelo accionista Estado, imagine-se o que dirá se a solução para o Novo Banco acabar por ser a nacionalização em contrapartida a uma oferta que implique perdas significativas para o Fundo de Resolução.
O que não foi feito em três anos de intervenção externa, nem no tempo que se seguiu, não será resolvido num passe de mágica. Tudo leva o seu tempo e, no que diz respeito ao sistema financeiro, não há soluções evidentes. O tempo passa e melhor se percebe que há muito crédito que foi concedido e que jamais voltará aos bancos. Na entrevista que hoje dá ao DN e à TSF, António Costa reconhece que esse problema tem dificultado a capacidade da banca de continuar a financiar as empresas. E assim se compromete o potencial de crescimento económico. O primeiro-ministro fala da necessidade de criar um veículo de resolução do crédito malparado que afecta os bancos portugueses, afirmando que quer "libertar o sistema financeiro [desse] mono". Resoluções neste sector têm significado muitas vezes perdas para os contribuintes, o que esperamos é que não tenha de continuar a ser assim, mas também sabemos que a fragilidade dos bancos não lhes permite resolver sozinhos os seus problemas. Transparência neste debate já é um bom princípio.