Quem manda no PSD
É quase unânime no PSD que o partido já não é o que era. Os rostos são outros, o baronato quase desapareceu e diluiu-se. Do passado, e dos anos de glória do partido (sobretudo os dez anos de cavaquismo), sobram algumas figuras, mas o mesmo não é dizer que mantenham a influência que já tiveram. Manuel Dias Loureiro tem sido, ao longo dos anos, a excepção.
No cavaquismo (1985-1995) dividiu durante largos períodos a sua influência interna com Fernando Nogueira, o outro "falcão" de Cavaco Silva nesses tempos. São públicas as dissonâncias que mantiveram e o exílio auto-imposto, depois de fracassada a hipótese de chegar a primeiro-ministro em 1995, primeiro em Lisboa, e depois em Paris (como alto quadro do grupo BCP), acabou por ditar que seria Dias Loureiro quem continuaria a manter uma tutela no partido, podendo dizer-se que está num plano acima dos chamados "barões".
Pouco ouvido durante os três anos em que Marcelo Rebelo de Sousa liderou o PSD, mas mesmo assim presente, por exemplo, na comunicação social, sentir-se-ia "recuperado" durante o consulado de Durão Barroso.
Presidente da mesa do congresso (até ao momento), Dias Loureiro chegou a admitir uma candidatura a líder em 2000, num momento em que Durão estava mais acos- sado pelos seus adversários internos (Santana Lopes, Marques Mendes e, como "mão invisível", Marcelo). Não foi avante. É quadro de topo do BPN e da Ericsson e é um nome a ter sempre em conta quando o PSD ou o Governo mexem. Aconteceu na formação do Governo de Durão Barroso e no de Santana Lopes no Verão do ano passado, sempre recusando entrar no jogo.
O papel de Marcelo Rebelo de Sousa no PSD é, ainda, relevante. Fundador do PPD, antigo director do Expresso e do Semanário, reparte a sua actividade entre a vida universitária (na Faculdade de Direito de Lisboa), a política semiactiva e os pareceres jurídicos, elaborados a um ritmo intenso.
O facto de ter estado omnipresente na comunicação social nas últimas décadas , com realce pa- ra os comentários dominicais na TVI e, agora, na RTP, fazem dele um player sempre tido em conta em muitas "jogadas" internas, como será o caso da moção "Transformar Portugal", que junta nomes como o de António Borges a figuras que foram seus correligionários nos últimos anos Leonor Beleza, João Silveira Botelho, Sofia Galvão ou seu antigo secretário-geral, Rui Rio.
O próprio Borges, em entrevista recente à RTP, referiu o nome de Marcelo como um dos que se reuniam com este grupo desde Outubro para preparar o futuro do PSD.
A influência de Manuela Ferreira Leite é de outro tipo. Apesar de ter sido líder da distrital de Lisboa há poucos anos, não tem "tropas" - aliás, foi eleita para este Congresso tendo perdido a votação na sua própria secção -, mas tem prestígio.
Próxima de Cavaco Silva, de quem foi ministra da Educação, é com Durão Barroso que ascende à "primeira divisão" no PSD. Ainda hoje há quem sustente que se a opção de Durão tivesse sido favorável à sua ministra das Finanças e número dois do Governo (em detrimento do número dois no PSD, Santana) ainda hoje o partido estaria no poder...
Importantes sempre que muda o líder são os chamados incondicionais. Foi o caso de Nuno Morais Sarmento e de José Luís Arnaut, que, apesar de terem uma história bem distinta no partido - o ex-ministro da Presidência mexe-se há mais tempo nos círculos do poder -, foram figuras proeminentes nos últimos cinco anos. O advogado da PLMJ&Associados, mais avesso às manobras partidárias, foi sempre muito ouvido por Durão Barroso e passou toda a sua influência - sobretudo ao nível do Governo - para o consulado santanista.
Arnaut, pelo contrário, chegou a estar "emprestado" a Marcelo - foi seu colaborador próximo - e começou aí a estender a sua rede de influência no partido, percorrendo milhares de quilómetros de quando foi secretário-geral do PSD, cargo que acumulou com o de ministro do Governo de Durão, o que lhe valeu várias críticas.
O seu sucessor, Miguel Relvas, que tem a vantagem de ter o seu próprio "sindicato de voto" na distrital de Santarém. Soube agarrar o partido e é neste momento um dos que melhor conhecem o aparelho. Próximo do PSD profundo, deputado e dirigente local em várias direcções nacionais, soube usar a experiência e os contactos que ganhou como secretário de Estado da Administração Local.
Miguel Macedo, uma hipótese para a liderança parlamentar, será um dos nomes a ter em conta, caso Marques Mendes vença este congresso. Foi esta proximidade que, aliás, o levou a pertencer ao Governo de Durão Barroso. Conta-se, nos meios sociais-democratas, que Mendes, antes de aceitar ser ministro dos Assuntos Parlamentares, usou da sua influência para levar o "amigo" para o Executivo.
Pedro Passos Coelho é também um dos elementos mais próximos de Marques Mendes e um dos seus principais conselheiros. Antigo deputado e um dos líderes da JSD mais vezes recordado, Passos Coelho deixou a política activa quando Barroso subiu ao poder. Optou então pela conclusão da sua licenciatura em Economia e por uma via profissional ligada à gestão de ONG.
Por último, Alberto João Jardim, o "eterno" presidente do Governo Regional da Madeira. Com uma moção própria neste congresso, deverá fazer valer toda a sua influência junto dos delegados madeirenses e não só. Tem a capacidade de empolgar reuniões partidários com um discurso politicamente incorrecto, que é a sua imagem de marca. Vale, diz-se, "quase tanto como uma JSD em congresso". Marcelo não dispensou a ajuda do fundador do PPD/M, que chegou a ter como vice-presiden- te da Comissão Política Nacional. Um dos momentos altos do congresso de Pombal poderá ser mesmo a altura em que Jardim subir à tribuna para, possivelmente, repetir as críticas à mo- ção "chá-canasta" de António Borges.