Queer 20: absolutamente fabuloso

De 16 a 24 de setembro, há muitos filmes queer para descobrir em Lisboa. A Cinemateca e o Cinema São Jorge são as salas oficiais
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Tempo de celebrar: chegado à vigésima edição, o Queer Lisboa é o festival de cinema mais antigo da capital. O espírito comemorativo faz-se sentir desde o primeiro momento, numa noite de abertura marcada pela dupla de personagens Edina Monsoon e Patsy Stone (Jennifer Saunders e Joanna Lumley), da famosa série britânica Absolutely Fabulous, que chega ao grande ecrã - The Movie - ostentando glamour em larga escala... Na mesma sessão, o Cinema São Jorge recebe o espetáculo teatral 50. Orlando, ouve, assinado por André Murraças, sobre o massacre na discoteca Pulse, Flórida, em junho deste ano, que levará ao palco várias personalidades numa homenagem às vítimas.

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Porque esta é uma edição que procura o retrato cultural e a perspetiva histórica do cinema Queer, o nome de Derek Jarman, a quem se dedica uma vasta retrospetiva, surge como pináculo nas propostas do festival, com um debate agendado sobre a vida e obra do realizador de The Last of England, que reúne alguns dos seus colaboradores próximos, envolvidos no ciclo. Figura icónica de um cinema à margem, nas décadas de 1970 e 80, o seu trabalho poderá ser descoberto ou revisitado na Cinemateca.

Num total de 114 filmes, oriundos de 27 países, o Reino Unido lidera a programação com 44 títulos. Já Portugal, com 11, que integram sobretudo as competições de curtas-metragens e In My Shorts, representa a terceira maior fatia nesta estatística, pondo em evidência o talento nacional.

Das longas-metragens em competição, João Ferreira, diretor do festival, destaca Theo et Hugo dans le même bateau, da dupla francesa Olivier Ducastel e Jacques Martineau: "Uma viagem na noite de Paris dos nossos dias, onde acompanhamos dois protagonistas, numa simulação do tempo real no tempo cinematográfico. Um filme que equilibra muito bem a representação da liberdade sexual e os receios e equívocos ainda presentes em relação ao VIH/Sida." Na competição de documentários, Tchindas, de Pablo García Pérez de Lara e Marc Serena, salta à vista: "Um dos documentários mais surpreendentes deste ano, que traça um retrato da comunidade queer da Ilha de São Vicente [Cabo Verde]. É muito interessante ver as suas formas específicas de integração."

Este ano o Queer é igualmente marcado pelo regresso da secção Panorama, com mais dois títulos a assinalarem as escolhas de João Ferreira: Goat, de Andrew Neel, "que fala sobre a construção da masculinidade e levanta questões muito pertinentes sobre os papéis de género", e O Ninho, dos brasileiros Filipe Matzembacher e Marcio Reolon, "um filme melancólico e soturno que, ao mesmo tempo, nos passa uma impressão de alegria silenciosa."

Do despertar da sexualidade ao conflito entre a tradição e o desejo, passando pelo tema das famílias homoparentais, há muito para ver, com a presença de vários realizadores. É o caso dos brasileiros Sérgio Andrade e Paulo César Toledo, ou do artista e realizador Vincent Dieutre, na estreia mundial do seu novo filme, Trilogie de nos vies défaites, "reflexão sobre as relações e a geografia humana na Europa, que acompanha três gerações. Um dispositivo poético absolutamente tocante", afirma o diretor do Queer.

Como não podia deixar de ser, a música tem um papel importante nesta edição comemorativa, e os seus protagonistas são Freddie Mercury e Annie Lennox, num programa composto por emblemáticos telediscos, que também contempla alguns realizados por Derek Jarman. Looking: The Movie, filme de Andrew Haigh que coloca o ponto final numa série televisiva homónima, também o coloca no festival.

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