Queda de grua causa três mortes

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Três trabalhadores da construção civil, dois portugueses e um ucraniano, tiveram morte imediata no seguimento da queda de uma grua que acabavam de montar. O acidente ocorreu ontem ao final da manhã no estaleiro da Soenvil, em Almornos, freguesia de Almargem do Bispo, concelho de Sintra. Em Portugal morreram no ano passado 83 trabalhadores deste mesmo sector, conhecido como "o grande assassino", um número ainda assim inferior ao de anos anteriores, segundo os dados Agência Europeia para a Segurança e a Saúde no Trabalho (AESST).

António Fernandes Gonçalves e Fernando Feio, com idades a rondar os 50 anos, encontravam-se ao serviço da Lusomáquinas, uma empresa de manutenção e colocação de gruas. Apenas Vitalje Petronenko, na mesma faixa etária, era funcionário da Soenvil, especializada na construção de escolas e igrejas. O drama surgiu quando os três homens colocavam o último peso na contra-lança, assegurando o equilíbrio do aparelho. Seria o último passo para o fim da tarefa, refrescados por chuva intensa. A pedra terá forçado um dos cabos, e toda a estrutura caiu.

"Quando as equipas médicas chegaram, já estavam sem vida", contou o comandante do posto da GNR de Pêro Pinheiro, sargento O'Neill, que tomou conta da ocorrência. Os cadáveres foram transportados numa viatura da PSP para o Instituto de Medicina Legal para a realização das autópsias.

Cabe agora ao Ministério Público do Tribunal do Trabalho abrir inquérito para averiguar as causas do acidente. Ao que o DN soube, um dos homens usava cinto de segurança que o prendia à grua. Alegadamente, os outros não terão seguido o exemplo. "Os acidentes e as doenças laborais no sector da construção custam às empresas e aos contribuintes europeus cerca de 75 mil milhões de euros anualmente - quase 200 euros por cidadão. A aplicação de normas de segurança e de saúde mais elevadas nesta área poderia poupar até 1300 vidas por ano e evitar 850 mil ferimentos graves", diz a AESST.

Debaixo de chuva contínua, o porta-voz da Soenvil, Gil Teixeira, lamentava o primeiro acidente grave naquela empresa familiar, há muitos anos imigrada de Viseu. "Gente séria", garantia Augusto, proprietário do café com o mesmo nome, exteriorizando o clima cinzento da paz verde de Almornos.

A fatídica grua, no dia seguinte à Páscoa, provocou a morte numa empresa com cerca de 100 empregados, especialistas em erguer igrejas e escolas. Gil Teixeira disse que só o inquérito poderá apurar o que falhou a nível da segurança. "Vitalje Petronenko era um trabalhador devidamente legalizado", garantiu. Ninguém da Lusomáquinas comentou o acidente.

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