Queda da produção na Europa faz disparar preço do vinho a granel

Espanha, França e Itália vão ter menos vinho, por causa das geadas e da seca. Em Portugal, apesar da colheita maior, os preços estão, também, a crescer. 2016 tinha sido "curto"
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A forte quebra da produção nos principais países vitivinícolas europeus, como Espanha, França e Itália, está a fazer disparar os preços do vinho a granel. Só em Castilha La Mancha, o acréscimo é da ordem dos 65% a 70%. Apesar da forte seca, Portugal é uma exceção, porque se espera uma campanha um pouco maior, mas nem por isso os preços deixaram de crescer: no Alentejo, por exemplo, os preços do granel praticamente duplicaram desde 2010, o último ano de grande produção em Portugal. O presidente do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), Frederico Falcão, admite que a tendência é para que continuem a subir "à medida que a procura aumenta".

A Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV) dá hoje a conhecer as previsões mundiais para a colheita de 2017, mas tudo indica que Portugal manterá a sua posição relativa no mundo, como 11.º maior produtor e 9.º maior exportador.

Para o presidente do IVV, o decréscimo de produção dos três maiores players do vinho no mundo pode ser uma boa notícia para Portugal. "Claro que os preços sobem, mas dá-nos alguma vantagem, porque cria oportunidades de mercado", diz Frederico Falcão. As exportações nacionais de vinho estão a bater máximos históricos desde 2010, com exceção de 2016, ano em que o crescimento nos EUA, Holanda, Alemanha ou Canadá não compensou a quebra de 55% em Angola e fechámos a recuar 1%. No primeiro semestre de 2017, as exportações de vinho cresceram 10%.

Em agosto, as projeções do IVV apontavam para um aumento da produção em Portugal de 10% face a 2016. Mas há que ter em conta que o ano passado já foi uma campanha "curta". Concluídas as vindimas, e enquanto se aguardam dados oficiais, o crescimento deverá ser menor, devido essencialmente à seca, mas também às geadas tardias, que causaram problemas em "zonas muitos localizadas", diz Frederico Falcão. O Alentejo previa manter a produção estável e deverá registar uma quebra. Nas zonas de Évora, Redondo e Vidigueira, é o terceiro ano consecutivo de seca e as vinhas começam a ressentir-se; mais a sul, nas áreas abrangidas pelo Alqueva, as geadas foram o problema.

A Casa Agrícola Alexandre Relvas teve neste ano a sua "vindima mais curta desde 2003", embora seja "a melhor dos últimos anos em termos de qualidade". Mas a empresa tem "sempre o cuidado de ter stocks para um ano de vendas". Alexandre Relvas admite que, neste ano, a empresa terá de comprar mais uvas do que o habitual. O que é um problema, atendendo a que os preços quase duplicaram desde 2010, custando atualmente o litro de vinho a granel qualquer coisa como um euro ou 1,10 euros. "A matéria-prima a subir a dois dígitos ao ano cria-nos problemas e tira-nos competitividade. Não podemos repercutir esse agravamento a 100% no mercado. Seria uma sentença de morte, não resta outra alternativa que não seja abdicar de alguma margem", diz o empresário.

O Douro era das regiões com previsões mais ambiciosas, antecipando um aumento de 20%. Agora admite-se que possa ficar por metade. António Saraiva, presidente da Associação das Empresas de Vinho do Porto, recorre à sua experiência pessoal - é administrador da Rozés, companhia detida pelos franceses da Vranken-Pommery Monopole - para garantir que não tem memória de um ano com as uvas em tão bom estado sanitário. "Como não houve humidade, estavam perfeitas", diz, antecipando uma vindima de "excelente qualidade".

Com nove propriedades no Douro, num total de 220 hectares de vinha, a Rozés não tem necessidade de comprar uvas ou vinho fora. António Saraiva não aponta valores, mas lembra que já no ano passado os preços subiram no Douro, com a uva corrente a ser paga a 200/250 euros a pipa (750 kg). Para o vinho do Porto, cada casa predefine os preços, antes da vindima, com os seus lavradores. E como lidam as empresas com os aumentos de custo? "É muito difícil. Vivemos numa Europa praticamente sem inflação e as centrais de compras não querem ouvir falar em aumento de preços", diz.

A Aveleda, líder na região dos Vinhos Verdes, compra uvas a cerca de dois mil viticultores para complementar a sua própria produção. Martim Guedes, administrador da empresa, diz que os preços têm vindo a subir na região, mas "de forma progressiva". Refere um aumento acumulado da ordem dos 20% nos últimos seis anos. O problema, diz, é que a região trabalha todos os anos com os stocks em mínimos. A estratégia da Aveleda é a de estabelecer "políticas de preço sustentadas" que evitem subidas ou descidas bruscas.

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