Que seja desta

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Como é bom ter não apenas um candidato à compra da TAP, mas três e todos eles, embora com credibilidade diferente, perceberem de aviação. Nenhum chegou à privatização de paraquedas. Estão dispostos a investir, a ficar com a dívida de 700 milhões, a dar garantias. Comprar a TAP não é o mesmo que ficar com a EDP ou a REN, onde havendo desafios há rendas e um mercado interno menos agressivo. Esses foram investimentos garantidos. A TAP não o é. A TAP está envelhecida, os aviões desgastados, as rotas europeias em pressão constante, as do Brasil à espera que surja um desafiador à altura. Ou então que as companhias do Golfo (Emirates, Qatar, Etihad) ou até a Turkish abram as asas para a América do Sul, onde ainda não chegaram em força, mas ao ritmo que se expandem já não faltará muito. Como conseguem crescer tão rápido? Injeções de capital público, empréstimos sem juros, vantagens fiscais - o vento sopra sempre a favor destas companhias, enquanto na Europa as regras são outras. Na Emirates, por exemplo, a frota de aviões alimenta-se a esteroides anabolizantes. No início do mês, a companhia anunciou que poderia comprar mais duzentos A380 (já tem 60), o maior avião comercial do mundo. A Lufthansa tem 15, ainda não todos a voar. A desproporção fala por si. A Turkish, que tem a seu favor a localização - entre a Europa e a Ásia -, pode mudar-se para um novo mega-aeroporto, cortesia de Ancara, de novo dinheiro público que cria mais uma vantagem competitiva. Neste cenário só de paradas altas, os contribuintes espanhóis desfizeram-se atempadamente do controlo da Iberia sem perder o fundamental da ligação ao mundo. O espantoso, o incrível, é a TAP ter sobrevivido. O país deve-o à boa gestão de Fernando Pinto. Mas já não dá mais. O PS que faça as contas. A única alternativa é escolher o melhor comprador, a ideologia não cabe aqui, é anacrónica. Ou a venda acontece, ou em breve teremos mesmo de apanhar outro avião.

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