Que o céu não nos caia em cima

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Estamos mais pobres! Não é novidade. O país empobreceu com a pandemia e vai empobrecer, ou no mínimo vai estagnar, com os efeitos da guerra na Ucrânia. Quando analisamos a situação económica per capita em 2021 comparada com a de 2019, a nação caiu um lugar no ranking mundial do Fundo Monetário Internacional (FMI). Está agora na posição 45, numa lista de mais de 190 países, segundo os últimos dados, divulgados nesta semana.

2022 não se antevê favorável, nem na economia local, nem no contexto global. Os dados do FMI antecipam que Portugal ficará estagnado, ou seja na mesma posição, quando chegarmos ao final do ano. Uma previsão que parece, à data de hoje, otimista para alguns. Certos empresários e economistas temem um novo retrocesso. Mas, se perante uma guerra das dimensões que conhecemos, ficarmos na mesma, então "do mal o menos" como diz o povo.

Pior notícia é sabermos que estamos a ser ultrapassados no nível de vida per capita por três países improváveis: Porto Rico, Polónia e Hungria. Os custos da invasão da Ucrânia pela Rússia estão a fazer disparar os preços das matérias-primas e de vários produtos alimentares e ainda a ativar o travão em algumas atividades exportadoras.

A juntar aos ingredientes de uma poção mágica potencialmente perigosa, Portugal continua a ser um país altamente endividado e começam a surgir nuvens no horizonte relacionadas com a subida das taxas de juro. Espera-se que o céu não nos caia em cima, como temia Abraracourcix, o ousado e corajoso chefe dos gauleses que, apesar de destemido, tinha esse receio na sua aldeia, a Gália de Astérix e Obélix e dos autores Albert Uderzo e René Goscinny.

Que o céu não nos caia em cima na Lusitânia e em mais 95 países, a totalidade dos territórios do mundo que não deverá conseguir reverter os efeitos adversos das duas crises - pandemia e guerra - em 2022, apura-se no mesmo relatório do FMI. E Portugal é um dos relatados.

O produto interno bruto per capita nacional, corrigido pelo poder de compra deste ano, ainda ficará 0,1% abaixo do nível pré-pandemia. Não estamos sós, já que com as gigantes e poderosas economias da Alemanha e do Canadá deverá suceder o mesmo. Aqui bem mais perto, Itália e França contam recuperar totalmente, superando até o nível de riqueza individual anterior à pandemia. Portanto, alguma coisa Portugal não está a fazer bem - ou, pelo menos, não está a fazer o suficiente. Ao governo, ao setor público e ao setor privado recomenda-se atentamente a leitura do relatório do FMI.

Lá em cima, perto do céu, aparecem no pódio deste ranking o Luxemburgo, Singapura e a Irlanda como os mais ricos do mundo. É nesses que devemos pôr os nossos olhos e ambicionar mais, muito mais. Sobretudo, mais na educação, mais no ensino superior e na investigação, mais na saúde, mais na modernização da administração pública e da justiça. E menos, muito menos, na burocracia e na carga fiscal.

Diretora do Diário de Notícias

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