Que esperar agora de Trump?
A recente decisão de Kim Jong-un de aceitar encontrar-se com Trump pode ser o resultado de uma grande estratégia norte-americana coerente, algo que não existiu com Obama.
Até recentemente, assistiu-se a uma escalada de tensão entre os EUA e a Coreia do Norte, que sugeria uma forte possibilidade de um confronto nuclear, com enormes repercussões para a região e o resto do mundo. Washington nunca deixou de mostrar firmeza em relação a Pyongyang, pressionou a China e a situação acalmou-se com o dirigente da Coreia do Norte a finalmente aceitar negociar.
Independentemente do comportamento frequentemente incoerente de Trump, das afirmações infelizes, tweets despropositados e situações afins, será interessante ver se as recentes notícias em relação à Coreia do Norte indiciam que, apesar de tudo a que se tem assistido, Trump será capaz de alcançar alguns resultados importantes em termos de política externa, e se o que está a acontecer é reflexo de uma grande estratégia coerente por parte desta administração, contrastando com o que ocorreu com Obama.
Apesar de um discurso afável e mobilizador, Obama não teve uma estratégia coerente e bem articulada a nível internacional. E isto, em nenhum dos seus mandatos. Houve muito boa vontade, grande simbolismo com a sua eleição - que foi marcante após a presidência de George W. Bush -, mas a sua complacência para com certos países e dirigentes, falta de assertividade na ação e muita retórica inconsequente não deram resultado e o mundo tornou-se mais violento e instável do que já era. A retirada do Iraque foi feita em 2011 sem conseguir a paz, acabando com os iraquianos a estabelecer redes de cooperação com o Irão, a Síria e a Rússia, solicitando inclusive apoio à Rússia para atacar o Estado Islâmico; a anunciada destruição do Estado Islâmico ficou muito aquém das expectativas, tendo a sua influência alastrado para a Líbia, a Tunísia e o Afeganistão; a credibilidade dos EUA ficou seriamente posta em causa com a não intervenção na Síria, após as ameaças contra Bashar al-Assad em 2011 caso este utilizasse armas químicas contra a população, como veio a acontecer; o chamado pivot para a Ásia em 2013 foi uma desilusão; o Irão conseguiu um acordo nuclear em 2015 muito favorável apesar de violações de várias resoluções da ONU com o enriquecimento de urânio; e a Rússia ganhou um espaço de manobra no Médio Oriente que não tinha anteriormente. O ponto alto parece ter sido mesmo a morte de Osama bin Laden em 2011.
Professor universitário