Que árvore quer ser, depois de morrer?
A morte está cheia de metáforas, mete medo, levanta questões. Julgamos enganar o destino não falando dela, mas sabemos que nos toca a todos: ninguém fica cá para semente. Ou pelo menos não ficava, antes de a empresa portuguesa SigmaPack disponibilizar os seus serviços fúnebres ecológicos que nos permitem ter as cinzas transformadas em árvore. Carvalhos, faias, pinheiros, gingkos. Florestas no lugar de cemitérios tristes e corrosivos. Que melhor forma de retornar à vida do que por meio da natureza?
«É preciso abater duas árvores para construir um caixão de cremação comum, de madeira. Matamo-las para as queimarmos, que sentido é que isso faz?», questiona Nuno Gonçalves, de 43 anos, mentor desta ideia das urnas ecológicas biodegradáveis em Portugal. A incredulidade estende-se às urnas tradicionalmente levadas a enterrar: como podemos continuar a usar modelos com revestimentos nocivos, metais, ceras e vernizes que contaminam as águas dos cemitérios? «A morte é um tabu tremendo e eu acredito ser preciso clarificar as coisas para as pessoas perceberem a enormidade do impacte ambiental. Se com uma só árvore fazemos cem urnas, não pode haver dúvidas.» Nuno já pensava nisso havia uns oito anos, quando ainda se dedicava ao negócio da embalagem. Aprendia tudo sobre materiais, enchimentos, logística - tão úteis também neste universo fúnebre - e sonhava com um produto inovador. «Um dia chegou a casa e falou-me de urnas ecológicas biodegradáveis, o que é que eu achava do assunto», conta Raquel Lopes Gonçalves, a mulher e sócia, de 34 anos. «Na altura ainda não tinha pesquisado nem encontrado nada a respeito, mas o conceito fascinava-o. Respondi-lhe que era muito à frente.»
Continue a ler na Notícias Magazine.