Quatro concertos, três locais, duas cidades, São Paulo e Rio

A Orquestra Gulbenkian atuou na Sala Sâo Paulo, sede da OSESP, e no Theatro Municipal do Rio, um ícone da cidade.
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A orquestra fez a sua estreia em São Paulo, no domingo, ao ar livre. no auditório do Ibirapuera, obra de Oscar Niemeyer projetada em 1954, mas só inaugurada em 2005.Tem essa particularidade de ter um palco em que tanto se pode tocar para o recinto fechado como para quem está ao ar livre, como foi o caso. Às 09.00, ainda com o céu a ameaçar chuva (que depois não apareceu), a orquestra teve o seu primeiro ensaio com o maestro desta digressão, o norte-americano Lawrence Foster.

"Deixem-me avisar, já estive aqui antes, vai haver ruído, trânsito, sirenes, o público... às vezes fala, outras vezes não", alerta o maestro, durante o ensaio. A música recomeça e, ao fundo, passa um avião. Do programa constava o concerto para violoncelo e orquestra de Edouard Lalo, com o violoncelista António Meneses, e a Sinfonia n.º 3 de Mendelssohn.

Meia hora antes do espetáculo, os músicos trocam os ténis pelos sapatos pretos, as T-shirts pelas camisas brancas imaculadas. As caras lavadas surgem maquilhadas.

O ambiente é descontraído - com sorvetes, pipocas, crianças e respetivos carrinhos, mantas e pés descalços. Informalidade total, e entrada livre, por oposição ao que se veria na noite do dia seguinte, já na Sala São Paulo, com 1469 lugares, quase todos ocupados, e bilhetes entre os 50 e os 390 reais, isto é 105 euros.

A tensão duplicou, reconhece a fagotista Vera, comparando. "Estava toda a gente hiperconcentrada e com vontade de tocar bem." O espaço impõe-se. Pela arquitetura e pela acústica, elogiada até pelo maestro. Na segunda-feira à tarde, a orquestra, conduzida em dois autocarros, conheceu finalmente a sala. A folha de planeamento era explícita: "Catering fornecido dentro do teatro uma vez que o local é muito perigoso." Chamam-lhe Cracolândia, por ser uma área de tráfico e consumo de drogas.

Frederico Lohmann, superintendente-geral da Sociedade de Cultura Artística, explica que "houve planos de dinamização da região, juntamente com a Pinacoteca de São Paulo e o Museu da Língua Portuguesa, que ardeu recentemente, mas estão parados por problemas burocráticos". Mas é aqui que a Cultura Artística mostra o seu programa desde que o teatro municipal, onde se apresentavam, ardeu em 2008. Eles, que até 1999 tinham sido a casa da OSESP, passaram a ser recebidos na casa da Orquestra do Estado de São Paulo.

Chegar e fotografar a sala foi a primeira reação de muitos músicos. Tirar uma selfie com o violoncelista António Meneses, no final do seu ensaio, foi a segunda. Foster interrompe o ensaio: "Desculpem, estava distraído com a beleza do que tocou", diz, dirigindo-se ao músico António Meneses, um atrativo do cartaz.

O outro era a peça Deux Portraits Imaginaires, do maestro português Pedro Amaral, que aqui estreou uma versão para orquestra da peça que tinha mostrado na Casa da Música, em 2013, por pedido de Risto Nieminen. Concerto para Violoncelo e Orquestra de Édouard Lalo e Sinfonia n.º 8 de Dvorak completaram o programa da primeira noite. A plateia brindou a orquestra com um longo aplauso retribuído com dois encores. Primeiro, Rosamunde, de Schubert, depois um toque português: Staccato Brilhante, de Joly Braga Santos. Na terça--feira, a orquestra tocou a sinfonia inacabada de Schubert, Mendelssohn e, com António Meneses, Shostakovich.

O concerto no Rio de Janeiro, promovido pela Dell "Arte, fechou a digressão brasileira no Theatro Municipal, na Cinelândia. Inaugurado em 1909, é um teatro clássico italiano para quase duas mil pessoas com mármores, dourados e veludos encarnados. "Tem uma acústica seca", constatou o maestro à chegada, contrariado por ter falhado o ensaio, preso no trânsito. "Dispensava", diz, entre elogios à orquestra. "Estão a soar muito bem."

Amanhã a orquestra regressa ao trabalho e prepara o programa das próximas quinta e sexta-feira, às 21.00: Mozart e Mahler, conduzidos por Benjamin Shwartz, com a soprano Sunhae Im e, ao piano, Varvara.

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