Quase 2500. Recorde de lobistas dos combustíveis fósseis inscritos causa polémica
Há pelo menos 2456 lobistas ligados ao setor dos combustíveis fósseis com acesso à 28.ª edição da Cimeira do Clima da ONU (COP28) e às respetivas negociações. O número "sem precedentes", conhecido esta terça-feira, foi revelado pela associação Kick Big Polluters Out (Expulsem Os Grandes Poluídores, KBPO na sigla original em inglês) e alimenta ainda mais a polémica em torno da cimeira.
De acordo com a KBPO, o número de lobistas (que representam interesses de empresas como a Shell ou a ExxonMobil na cimeira) é quase quatro vezes maior do que na COP27, que aconteceu há um ano em Sharm-El-Sheik (Egito). Ainda segundo esta organização, este número significa que, à exceção do Brasil e do país anfitrião, todas as delegações têm menos pessoas inscritas no evento.
Decorrendo no Dubai (Emirados Árabes Unidos), a COP28 é presidida pelo sultão Ahmad al-Jaber, líder, ele próprio, da empresa petrolífera estatal dos Emirados - algo que tem causado polémica e levantado questões sobre a possível pressão feita pelas grandes empresas de combustíveis ao longo do evento.
Em reação à notícia, a Rede de Ação Climática Internacional (CAN na sigla em inglês) deixou críticas, dizendo que "não se convidam incendiários para conferências sobre combate a incêndios". "Mas é precisamente o que está acontecer aqui na COP 28. A interferência das grandes poluidoras nas negociações pelo clima está a custar casas, meios de subsistência e até a vida a milhões de pessoas", argumentou a CAN numa publicação na rede social X (ex-Twitter).
No exterior do local onde decorre a cimeira, houve também manifestações a apelar ao fim do uso de combustíveis fósseis.
No sexto dia de cimeira (que termina na próxima terça-feira), o foco foi a Energia. Nesse sentido, o Pavilhão de Portugal na COP foi palco de um debate promovido pelo Laboratório Nacional de Energia e Geologia. Aí, um conjunto de especialistas sublinhou a urgência em garantir uma transição energética como forma de combate às alterações climáticas, que passará também por uma mudança de comportamentos por parte da sociedade.
Pela primeira vez com um pavilhão num evento deste género, Portugal comprometeu-se a triplicar as energias renováveis até 2030. A garantia foi deixada por Ana Fontoura Gouveia, secretária de Estado da Energia e Clima. O compromisso - que envolve outros 122 países - foi assumido numa reunião ministerial. "A Agência Internacional de Energia apresentou estas duas metas muito tangíveis [triplicar a produção de renováveis e duplicar a eficiência energética até 2030] e isso permite, a cada um dos países, ter uma bússola sobre aquilo que deve fazer individualmente", sublinhou, citada pela Lusa, a governante. Nesta lista de 123 países estão também os Emirados Árabes Unidos.
Sobre a polémica em relação às declarações do presidente na antecâmara da COP28 (que foi interpretado como não defendendo totalmente o fim dos combustíveis fósseis), Ana Fontoura Gouveia desvalorizou, dizendo que o facto de Al-Jaber ter clarificado é "um sinal muito claro sobre a ambição".