Quantos anos perdemos com o ar poluído? Em Portugal a média é de cinco meses

Uma pessoa viveria em média mais 2,6 anos se o ar que respiramos estivesse livre de qualquer tipo de poluição, diz um estudo da Universidade de Chicago. Portugal está abaixo da média mundial.
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Quantos anos de vida perdemos devido ao ar que respiramos? Como se pode medir? Foi para dar resposta a estas questões que investigadores da Universidade de Chicago realizaram um estudo onde procuraram encontrar uma forma de tornar as medições da qualidade do ar menos abstratas e para que fosse possível verificar quais as regiões em que há piores consequências para a saúde. Portugal entra na listagem e, segundo o estudo, as partículas no ar fazem perder cinco meses de vida a cada residente no país. Bem abaixo da média mundial que se cifra em 2,6 anos.

Das conclusões deste trabalho científico, divulgado pelo The Washington Post, ressalta que a poluição mais responsável por encurtar vidas consiste nas mais pequenas partículas transportadas pelo ar, chamadas PM2.5. São pequenas o suficiente para penetrar nos pulmões e na corrente sanguínea, causando problemas respiratórios e cardiovasculares, cancro e até demência. São partículas más para pessoas saudáveis e terríveis para crianças pequenas, idosos e qualquer pessoa que já tenha problemas cardíacos ou respiratórios.

Além disso, são tão leves que podem ficar suspensas no ar por um longo tempo e viajar com o vento, razão pela qual os incêndios florestais na Califórnia desencadearam alertas de qualidade do ar e forçaram o encerramento de escolas a muitos quilómetros de distância.

A equipa de Chicago começou com dados de satélite que mapearam a concentração anual de PM2,5 no ar em todo o mundo, de 1998 a 2016. Filtraram as partículas que são provenientes da poeira e do sal marinho - menos de um quinto do total - para se concentrarem na maioria, que é gerada pela combustão de combustíveis fósseis, queimadas e outras atividades humanas. Calcularam então quanto tempo as pessoas viveriam se o ar que respirassem tivesse menos - ou nenhuma - dessas partículas. O resultado do projeto é o índice de qualidade da qualidade do ar, medido em números que evidenciam grandes diferenças entre os países.

Na Europa, o pior país é a Polónia onde as pessoas perdem em média dois anos de vida devido a estas partículas. Em Portugal perde-se seis meses de vida com a poluição, igual a Espanha. Os números na União Europeia são, em geral, bons se comparados com outras regiões do mundo.

Os números são um aviso apenas, alertam os cientistas, e não constituem uma sentença de morte. Refletem o que se poderia esperar se as pessoas passassem a vida a respirar a quantidade média de poluição que foi medida na sua região de residência durante cada ano no estudo.

"O presente não é o destino", disse Michael Greenstone, diretor do Energy Policy Institute, da Universidade de Chicago, e principal autor do relatório desta investigação. "Quando você olha em redor do mundo, constata que políticas vigorosas podem realmente mudar a qualidade do ar e prolongar a vida das pessoas".

China melhorou

Um exemplo é a China, que é conhecida pela dependência do carvão e por altos níveis de poluição do ar. Foi também onde o projeto de Chicago se iniciou. No ano de 2010, Greenstone pesquisou comunidades ao longo do rio Huai, que traça um enorme caminho pelo meio do país. As pessoas ao norte e ao sul do rio tinham vidas quase idênticas, mas as que residiam a norte aqueciam as casas com caldeiras de carvão. Morreram em média 3,1 anos mais cedo do que os vizinhos do sul, que não tinham aquecedores.

Ao comparar a poluição de partículas finas e o tempo de vida nas cidades ao longo de ambos os lados do rio, a equipa conseguiu vincular a concentração de PM2.5 à expectativa de vida. Isto em 2013. No ano seguinte, o governo chinês reagiu à indignação pública e lançou uma "guerra à poluição". O país fechou algumas minas de carvão, limitou indústrias como a siderúrgica, levou a que as cidades reduzissem as emissões e proibiu novas indústrias a carvão. Em quatro anos, as áreas mais populosas do país cortaram as concentrações de PM2,5 numa média de 32%. Só no ano passado, a poluição de Pequim caiu 20%.

A Índia, por seu lado, ainda não criou uma tendência para limpar o seu ar. Um documento de 2016 descobriu que a poluição do ar contribui para meio milhão de mortes prematuras a cada ano. Pessoas em algumas zonas perto de Delhi, a metrópole mais poluída do mundo, perdem uma década ou mais na expectativa de vida.

"Não acontece em todos os lugares, mas na maior parte dos EUA a poluição do ar está sob controlo", disse Greenstone. A pior área para a poluição por partículas nos Estados Unidos é o sul da Califórnia, de acordo com os dados de 2016, registados antes dos enormes incêndios florestais dos últimos dois anos. Em segundo lugar encontram-se partes do estado de Ohio, onde as pessoas podem esperar perder quase 16 meses.

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