"Quanto mais depressa este governo sair, melhor para a Grécia"
Presidente do PASOK e da coligação Alinhamento Democrático desde 2015, Fofi Gennimata foi eleita há menos de um mês líder do novo partido de centro-esquerda da Grécia (ainda sem nome) e que engloba forças como o próprio PASOK e o To Potami. Em entrevista ao DN, a socialista aponta o dedo ao governo de Alexis Tsipras, mas também aos conservadores da Nova Democracia (ND), e conta o que deseja para o futuro do seu país.
Por que razão este novo partido de centro-esquerda é necessário?
Hoje, mais do que nunca, precisamos de um partido social-democrata contemporâneo, um centro-esquerda contemporâneo que consiga trazer uma mudança real, uma esperança real. Crescimento, emprego e solidariedade são os nossos três principais objetivos. O país precisa de uma união de forças, mas também de um plano realista para superar a crise, impulsionar o crescimento económico, reduzir as desigualdades, proceder a mudanças estruturais tanto na economia como na sociedade. Precisa de uma força política progressista que, mais uma vez, abra o caminho para o progresso de todos aqueles que querem trabalhar e prosperar, de todos os que têm sentido de responsabilidade pelo presente do nosso país e pelo futuro das nossas crianças. Só um governo forte com um amplo apoio popular e uma maioria parlamentar pode reforçar a credibilidade do país e prosseguir com as reformas progressistas necessárias, negociar com os nossos parceiros com credibilidade e obter resultados tangíveis no processo da dívida.
A participação na sua eleição como líder do novo partido surpreendeu-a?
Eu mantenho sempre um contacto próximo com as pessoas e sei, em primeira mão, quais são os seus problemas e as suas expectativas. Especialmente nos últimos dois anos tenho estado em permanente campanha de forma a "construir" o Alinhamento Democrático passo a passo, num esforço continuo para discutir e explicar o que estou a tentar fazer. Este resultado não é apenas um sinal para o futuro, é o próprio futuro para a política grega e para o povo grego. O que me surpreendeu foi o entusiasmo que levou mais de 200 mil cidadãos a irem às urnas. Convencer milhares de pessoas a participarem num processo político é uma vitória, porque a falta de credibilidade, confiança e segurança tem envenenado a política grega, sobretudo nos últimos anos. Tanto Syriza como Nova Democracia têm a sua quota-parte de responsabilidade por esta situação. Durante muito tempo, a sua retórica pré-eleitoral baseou-se nos apelos populistas "antimemorando", na retórica polarizada e em ataques constantes aos esforços que o nosso governo estava a fazer para evitar a bancarrota.
O Alinhamento Democrático é agora quarto nas sondagens. Que resultado espera que o novo partido tenha nas próximas eleições? Está disponível para um governo de coligação?
O Alinhamento Democrático está a ficar mais forte. Estou consciente do mandato claro que os cidadãos nos deram. E em conjunto com cidadãos democratas iremos tornar o centro-esquerda poderoso outra vez. Vamos trazer uma grande reviravolta nas próximas eleições. Deixei claro desde o início que traçámos o nosso percurso autónomo, o nosso papel independente. No entanto, os jornalistas continuam a perguntar o mesmo. E continuo a dar a mesma resposta: o povo grego vai determinar o rumo do país nas próximas eleições e quem der por garantida a vontade do povo terá uma surpresa. As próximas eleições serão uma batalha a três, na qual iremos defrontar populistas e conservadores. No que diz respeito à coligação governamental colocámos o Plano para a Grécia em cima da mesa, é a nossa proposta de governação. Mas invertemos a questão: "Estão ND e Syriza dispostos a contribuir para a estabilidade política, mesmo com base numa agenda progressista?"
O Syriza está atrás da Nova Democracia nas sondagens. Acha que os gregos irão castigar Tsipras nas eleições?
Não acredito que os eleitores venham a castigar. As pessoas precisam de esperança, têm perspetivas, expectativas e sonhos de uma vida melhor. Não há esperança ou um futuro próspero com este governo. Este governo sofre de isolamento político e social. Quando mais depressa sair, melhor será para a Grécia.
Durante a crise do verão de 2015, se fosse primeira-ministra, o que teria feito de diferente de Alexis Tsipras?
Após quatro duros anos para os gregos, o país estava a um passo de sair do memorando, mas com as decisões irresponsáveis de Tsipras e de Varoufakis o país ficou à beira do desastre. Votámos o acordo porque tivemos sentido da nossa responsabilidade e propusemos um roteiro claro das ações futuras do país de forma a evitar eleições, garantir a estabilidade política e construir um consenso político e social. Poderíamos ter criado uma equipa nacional de negociação e discutido com os parceiros a melhoria dos termos extremamente injustos e duros do novo memorando. Tsipras fez exatamente o contrário.
Como descreve a governação do Syriza?
Este governo assinou compromissos até 2060, que incluem obrigações que vinculam o país até pelo menos 2022 para atingir um superavit primário de 3,5%. Este governo votou novas medidas para cortar pensões e reduzir isenções de impostos em 2019-2020. Ao mesmo tempo falam sobre "o fim da crise" e garantem ao povo grego que "a Grécia vai sair em breve dos memorandos". A "realidade" deles é uma realidade virtual e a sua "saída" é um beco sem saída.
Que futuro quer para a Grécia?
Precisamos de um futuro no qual todos possam prosperar. Estamos a desenvolver o Plano para a Grécia, que consiste em oito grandes eixos com soluções para os grandes problemas da sociedade. Inclui propostas de crescimento económico, grandes investimentos, apoio a pequenas e médias empresas, mudanças no setor público, luta contra o desemprego e criação de emprego. Só assim os jovens voltarão para a sua terra natal. Para nós, esse é o principal objetivo nacional.
PERFIL:
Nasceu em Atenas a 17 de novembro de 1964. Tem 53 anos.
É filha de Georgios Gennimatas, um dos fundadores do PASOK.
Fez parte do governo de George Papandreou.
Em 2015 pegou num PASOK quase moribundo, fez a coligação Alinhamento Democrático com o DIMAR e subiu para quarto nas intenções de voto. Lidera o novo partido de centro-esquerda da Grécia.