Quanto custa ter um filho na universidade?

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Há alertas que não podem ser ignorados, sob pena de o País estar a frustrar a esperança dos jovens no seu futuro. Nos tempos que correm, ir para uma universidade estudar é um investimento que vai além da concretização de uma vocação ou do sonho de um dia poder exercer uma profissão desejada. Os custos para se alcançar esse objetivo estão cada vez mais elevados. E há muitos alunos que, por isso, ficam pelo caminho. Depois de este ano se ter celebrado uma taxa de colocação de 84% no Ensino Superior, tendo 56% ficado colocados na primeira opção, é preciso agora não ignorar que nem todos têm condições financeiras para suportar os seus estudos.

O diretor da Faculdade de Medicina de Lisboa, João Eurico da Fonseca, toca precisamente na ferida quando alerta (nesta edição) que, "se não tivermos uma política de apoio aos jovens" na habitação, "corremos o risco de perder alunos" no seu trajeto de conclusão do curso, por desistência, sem dinheiro suficiente para pagar as suas despesas e por não conseguirem viver em Lisboa. Os que concluírem o curso, são potenciais emigrantes.

Os agregados familiares com maiores necessidades financeiras são também aqueles que menos podem investir nos estudos - só 10% dos filhos de famílias mais pobres e com menos qualificações é que chegam à universidade. Mas não devia ser assim. Muitos alunos, inclusivamente de excelência, ficam entre a espada e a parede: desperdiça-se talento e esperança. É preciso garantir condições para que o ensino seja, de facto, transformador para todos.

Recordando palavras do diretor da Nova School of Business & Economics (Nova SBE), Pedro Oliveira, "estamos a exportar alguns dos melhores recursos que formamos em Portugal". A atratividade limitada do mercado de trabalho português, a par do elevado custo de vida, está a empurrar para fora do País os jovens que fazem falta cá dentro. "Quando fazemos o balanço por paridade do custo de vida, percebe-se que é difícil viver em Portugal, é difícil pagar uma renda."

Para estes jovens, a entrada na universidade é o primeiro choque de realidade. E não importa que tenham alcançado em qualquer curso médias mais modestas do que os 18 ou 19 valores de entrada em Medicina ou em Engenharia Aeroespacial. Importa é saber quem está a ouvir estes apelos. O problema é transversal a toda a sociedade e deve estar nas prioridades governativas, sob pena de se condenar também o futuro do País.

Subdiretor do Diário de Notícias

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