Quanto custa formar especialistas?

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Os países ricos tentam atrair especialistas donde houver, para responder às suas necessidades. Eles vêm sobretudo dos países pobres. A atração que exerce um país desenvolvido - o estilo de vida menos penoso, bons transportes urbanos e receitas em moeda forte, boa organização e serviços ao dispor - é indisfarçável.

Os governantes desses países encaram a sua vinda na perspetiva de quem "dá uma mão" para ajudar... Não pensam que estão a tirar um ativo importante que implicou custos para o país de origem, em instrução e formação adequada. Eles ficam apenas no "favor que fazem" em deixar entrar, e não dão importância ao que aproveitam deles.

Convenhamos que resolvem o seu problema e o especialista tem oportunidade de realizar o seu sonho. Se quisessem formar no país, isso levaria muitos anos, enquanto os migrantes estão disponíveis de imediato para atuar e não há custos da sua formação.

Estas considerações ocorrem-me por ver cada vez mais governantes "ocidentais" dando ares de que "todo o mundo lhes é devedor". Eles dão ordens e ameaçam "fechar a porta", depois de se terem beneficiado do trabalho brilhante - estou a pensar nos jovens indianos nos EUA e, em particular na Silicon Valley (SV) (um estudo de Vivek Wadva aponta para 44% das empresas nascidas na SV serem de indianos) - deles.

Países como os EUA, UK, Austrália, Canada, Nova Zelândia, entre outros, talvez por causa da língua, tiram grande partido do trabalho dos que procedem da Índia, onde fizeram cursos Universitários exigentes, com números clausus, "tirando" lugar aos outros, no uso do seu legítimo direito. É o caso de Médicos, de Engenheiros Informáticos e de todas as outras especialidades, de Dirigentes de empresas, de Economistas e Financeiros, de Enfermeiros, etc.

Se os países recetores ficam com pessoas preparadas e prontas para a ação, os de origem ficaram com os encargos do investimento na formação, do qual não veem retorno. E este país é habitualmente pobre, perdendo pessoas que podiam ser muito valiosas no seu país.

Apesar de nem tudo ser tão límpido e transparente, porque por vezes o especialista não pode criar riqueza no seu país, como no pais rico de destino, organizado e com recursos, com medidas da performance, etc. Na sua terra o especialista é, por vezes, desaproveitado, sem desafios à altura, com chefias incompetentes. Talvez, por isso, faça bem em sair, deixando um lugar livre para outros.

Contudo, os países de destino, deveriam ter mais sentido de justiça, dando valor ao que recebem e tratando de devolver, ao país de origem, os custos de formação dos especialistas recebidos. Poderiam eventualmente orientar tal montante para o ensino, criação de novas Universidades, de acordo com o Governo do país. Como falo da Índia, e apesar de haver 882 Universidades, fazem falta mais... e abunda o desejo de estudar, na juventude local

Assim, o país de origem teria capacidade de formar mais pessoas e apoiar "todo o mundo" no seu desenvolvimento. Dada a grande capacidade de adaptação dos indianos, e de relacionamento com pessoas de qualquer background cultural, poderiam ir onde melhores condições lhes fossem criadas. Em particular para toda a África e América Latina, tão precisadas de bons Médicos, Engenheiros Informáticos, Agrónomos, etc.

É insensato dizer que os países pobres não sabem governar-se... Se foram espoliados e destruídos na colonização, não podem erguer todo o edifício de organização social e de produção, num ápice de tempo. É preciso dar tempo...

Heroico e celebrado será o Chefe de Governo do país que tomar a iniciativa de atuar na linha de repor a justiça. Como foram os Chefes dos Governos que acabaram com o tráfico de escravos ou com o apartheid.

*Professor da AESE-Business School

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