Quando vivi nos EUA

Gonçalo de Almeida Ribeiro integra um vasto painel de oradores e moderadores que a 13 e 14 de Setembro debaterá, numa conferência organizada pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, o tema: "Portugal europeu - e agora?".
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A identidade vive do contraste. Em Coimbra ou no Porto sinto-me lisboeta, em Espanha ou Itália sinto-me português, na Alemanha ou na Dinamarca sinto-me mediterrânico. Por ser relativa, a identidade é plural: temos pertenças múltiplas, a do nosso clube, cidade, pronvíncia, país, região, civilização. O «estrangeiro» de ontem pode ser o «camarada» de amanhã. Este pluralismo identitário é uma coisa boa, porque relativiza a identidade sem todavia a suprimir. É o ponto médio entre a xenofobia e o fanatismo, de um lado, e a abstracção compulsiva, do outro. O sujeito de pertenças múltiplas é um cosmopolita maduro e responsável.Ser «europeu» é uma das minhas pertenças. Senti-a sobretudo durante o período de seis anos em que vivi nos Estados Unidos. Foi a contemplação dos hábitos de vida, dos preconceitos, dos tipos sociais, e da cultura pública dos norte-americanos, que despertou a minha identidade «europeia». Não conseguiria traduzir por palavras em que é que consiste verdadeiramente essa identidade, em que é que o ser-se «europeu» difere do ser-se «americano». Qualquer reflexão trairia a complexidade dessa pertença e a espontaneidade da sua emergência perante a alteridade. Uma identidade não é um conceito. É um sentimento.

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