Quando um compositor se alia a um cineasta

Ao longo da história do cinema, há muitos e variados exemplos de notáveis colaborações entre compositores e cineastas: a aliança Alfred Hitchcock/Bernard Herrmann é um belo exemplo.
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Há qualquer coisa de desconcertante no facto de a fama de Howard Shore estar quase exclusivamente associada à trilogia de O Senhor dos Anéis, de Peter Jackson. Foi, de facto, com A Irmandade do Anel (2001), que ele conseguiu o seu primeiro Óscar. Seguir-se-iam mais duas estatuetas douradas graças a O Regresso do Rei (2003): uma para a banda sonora, outra para a canção Into the West (prémio partilhado com Fran Walsh e Annie Lennox).

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Ora, a obra cinematográfica deste compositor canadiano é incomparavelmente mais longa e diversificada, em especial através dos filmes de David Cronenberg (todos desde 1979, com uma única excepção). De um ponto de vista conceptual, poderemos ser impelidos a considerar o seu trabalho em O Senhor dos Anéis como um laço criativo semelhante ao que existe, por exemplo, entre Steven Spielberg e John Williams. Acontece que Williams não é colaborador de "um" determinado projecto de Spielberg, mas sim alguém que o tem acompanhado, quase sem interrupções, ao longo de filmes produzidos durante mais de quatro décadas, desde Asfalto Quente (1974), primeira longa-metragem para cinema assinada por Spielberg, até O Amigo Gigante (2016).

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Entre as alianças que, a propósito, poderemos evocar, é especialmente sugestiva a de Alfred Hitchcock e Bernard Herrmann. O autor da música de O Mundo a Seus Pés (1941), de Orson Welles, deixou as marcas da sua sofisticação no universo hitchcockiano através de títulos como O Homem que Sabia Demais (1956), em que surge como maestro na célebre cena no Royal Albert Hall, Intriga Internacional (1959) ou Psico (1960). A sua herança viria mesmo a disseminar-se através de um discípulo como François Truffaut que o convidou para compor a música de Fahrenheit 451 (1966) e A Noiva Estava de Luto (1968). Isto sem esquecer que a sua derradeira banda sonora pertence a Taxi Driver (1976), de Martin Scorsese - Herrmann faleceu em finais de 1975, sendo o filme dedicado à sua memória.

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Há no cinema contemporâneo, outras colaborações igualmente brilhantes entre compositores e cineastas. Para nos ficarmos por uma das mais heterodoxas (e também mais fascinantes), lembremos a que se estabeleceu entre Jonny Greenwood (membro dos Radiohead) e o realizador Paul Thomas Anderson, nos filmes Haverá Sangue (2007), The Master - O Mentor (2012) e Vício Intrínseco (2014).

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Infelizmente, dir-se-ia que o mercado discográfico "abandonou" o domínio das bandas sonoras, tornando cada vez menos frequentes as respetivas edições (em regra, com uma presença também discreta nas plataformas digitais). Dir-se-ia que diminuiu a disponibilidade para escutar a música no interior dos filmes - não é por falta de qualidade dos filmes, muitos menos dos seus compositores.

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