Quando Robert Pattinson conquistou os manos Safdie

Foi um dos filmes que mais divisão criou no último Festival de Cannes. "Good Time" é a história de um assalto falhado, um conto de "loosers" numa noite nova-iorquina violenta. Em Cannes, o DN ouviu Benny e Josh Safdie, os realizadores, maravilhados com o seu ator, Robert Pattinson. Estreia na quinta-feira.
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O cinema dos irmãos Safdie está a ficar num limbo de cruzamentos estéticos. Olhamos para este Good Time e encontramos o Ferrara dos tempos mais selvagens, mas também a pulsação de Nova Iorque, Fora de Horas, de Martin Scorsese ou a aridez de um Gloria, de John Cassavetes. Em Cannes, quando encontrámos Josh e Benny Safdie, as críticas internacionais já tinham saído e os manos estavam cientes do carácter divisório do filme.

Ao contrário de Vão-me Buscar Alecrim (2009) e Heaven Knows What (2014), onde a precisão e a métrica dos diálogos se sobrepunham ao resto (podia falar-se em estilo de linguagem à Safdies...), aqui a coisa é mais embalada perante uma urgente vontade de contar uma história, bem como seguir um género ou uma especialidade: o thriller de fuga.

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Quem está em fuga são dois irmãos nova-iorquinos, dois pequenos delinquentes que acabam de cometer um delito maior: assaltam um banco. Um assalto cuja fuga corre mal, um dos irmãos, aquele com perturbações mentais, é apanhado, mas o seu irmão vai fazer os possíveis para o tirar da cadeia, nem que para isso tenha de fazer uma viagem ao fim da noite.

Uma das surpresas de Good Time é a prestação de Benny como ator. Perguntamos-lhe se nessas cenas dirigia-se a si próprio ou se a responsabilidade era toda para Josh. Sem hesitar, confessa: "Curiosamente, essas foram as únicas sequências em que improvisámos. A lógica, claro, pedia que eu obedecesse a algumas coisas, mas não pude evitar o apelo da improvisação. Estava na minha cabeça como eu poderia dizer certas coisas, tinha que ver com um vocabulário muito emocional e tudo dependia de como o ator que fazia a contracena falava comigo... Se sentisse algum tipo de agressividade teria a liberdade para reagir. Por isso, ensaiámos muito. A cena com o advogado, na prisão, foi muito ensaiada, por exemplo. Criámos situações para eu ter liberdade para ser aquela personagem."

Josh interrompe o discurso e depois de dizer que ficava a chorar e a rir quando via o irmão a representar no monitor, garante: "Trata-se da mais pura verdade! Desde criança que fui entretido pelas suas performances. Eu também gostava de representar e julgava que era bom, embora percebesse que o Benny era melhor. Por isso, houve momentos em que percebi que ele estava prestes a deixar cair uma lágrima. Eu era o único no plateau que percebia isso. E o que é espantoso é que conseguia verter uma lágrima sem mudar nada na sua expressão. Nesse momento, claro, creio que comecei eu a chorar! O anotador olhava para mim e percebia em que tipo de rodagem estava metido... Ver o meu irmão a representar traz-me memórias profundas. Houve até uma altura em que um produtor veio perguntar se o Benny estava bem...".

Benny interrompe para acrescentar: "Tivemos uma infância muito dramática! Uma infância confrontada com um divórcio e um suicídio... O que aqui faço como ator é tentar criar uma personagem de alguém que não quer e não mostra qualquer tipo de emoção. Numa das cenas, em que vemos uma personagem a falar com ele, nota-se também todo o seu orgulho. A dada altura, olha-o nos olhos, coisa que é o derradeiro passo emocional para si. Quando Nick estabelece contacto com alguém é sempre um acontecimento". Mas o filme, obviamente, é guiado pela interpretação furiosa e em transe de Robert Pattinson, que perseguiu os cineastas para trabalhar com eles. A estrela dos filmes Twilight viu Heaven Knows What e ficou fã deles.

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Os irmãos, pela primeira vez trabalharam com um nome conhecido, uma vedeta das grandes. "O Rob conseguiu o nosso contacto através do nosso amigo Brady Corbet, o cineasta que o tinha dirigido em A Infância de Um Líder. E que ator tão entusiasta! Ele é tão entusiasta do processo de trabalho que é impossível passar ao lado disso. Na verdade, não o conhecíamos! Honestamente, nunca tinha visto nenhum filme da série Twilight!", conta Josh.

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Benny completa: "Mal o conhecemos sentimos uma energia espetacular! Nunca tinha visto um ator com aquela energia e com uma voz tão inquisitiva. Mesmo sem termos visto o que ele tinha feito antes, percebemos que podíamos trabalhar juntos".

Good Time, fábula urbana sobre o sacrifício familiar supremo, insere-se dentro de uma certa renovação do chamado indie nova-iorquino. Desta vez, estes dois realizadores querem também trabalhar uma nova estética, algures entre uma experiência de angústia psicológica e a adrenalina mais física.

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