Quando os milhões não tocam sempre aos grandes

Com a saída de Ederson para o Manchester City, o Rio Ave recebe 11,5 milhões. Sp. Braga é claramente rei num universo sem Benfica, FC Porto e Sporting
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Os três grandes do futebol português têm movimentado muito dinheiro e gerado somas volumosas para financiar a sua principal atividade, mas desengane-se quem achar que apenas Benfica, FC Porto e Sporting têm vendido jogadores por valores que impressionam.

O último caso tem epicentro em Vila do Conde. O Rio Ave nunca se quis desfazer de 30% dos direitos económicos sobre a mais-valia que o Benfica pudesse realizar numa transferência de Ederson, por quem o clube da Luz pagou 500 mil euros por 50% do passe que foi agora vendido ao Manchester City por 40 milhões. Grosso modo, o clube de Vila do Conde vai receber 11,5 milhões de euros, isto se as contas forem lineares, pois podem entrar em cima da mesa outro tipo de acordos em que géneros - leia--se jogadores - substituam o vil metal. Mas António Silva Campos, presidente do Rio Ave, foi avisando, numa altura em que o brasileiro ainda não tinha sido transferido para Inglaterra, que o Rio Ave mantinha os 30% dos direitos económicos - os restantes 20% pertencem à Gestifute de Jorge Mendes.

O superempresário português tem estado na origem dos valores recebidos pela maioria dos clubes nas transferências efetuadas. Inclusivamente nos clubes que estão abaixo dos grandes, com especial preponderância para o Sporting de Braga, que, por exemplo, é o maior beneficiado da transferência mais elevada entre clubes portugueses, com a ida de Rafa para o Benfica.

Os minhotos são os campeões indiscutíveis das vendas num ranking que não inclui grandes. No top 15, oito são do Sporting de Braga e Mendes teve intervenção em quase todas, pois naquelas em que não participou como agente tinha parcelas dos passes dos futebolistas em questão, como Rafa ou Éder, do qual detinha 30%.

Mais polémica foi a saída de Bebé para o Manchester United. Os ingleses pagaram 8,8 milhões, mas nos cofres vimaranenses só entraram três milhões, o que gerou um enorme turbilhão numa assembleia geral. Diogo Jota, que saiu do Paços de Ferreira para o At. Madrid a troco de 7,2 milhões de euros, não gerou 100% de lucro ao clube da capital do móvel, pois este tinha alienado 60% - 40% à Gestifute de Mendes a troco de... 35 mil euros e 20% ao empresário António Teixeira como forma de pagamento de uma dívida de 30 mil euros. Em suma, o Paços de Ferreira só recebeu 2,8 milhões de euros.

É óbvio que talvez sem a intervenção de um agente com a dimensão de Jorge Mendes os clubes de menor espetro mediático não tivessem acesso a verbas que ajudam a equilibrar as contas e mesmo a pagar o orçamento anual das respetivas equipas de futebol profissional e isso também é sabido por esses clubes que conhecem as regras do jogo, pois em muitas situações são os próprios a solicitar a ação do agente já que precisam de encaixar verbas para fazer face às despesas do quotidiano.

Em todo o caso, este ranking reflete um pouco aquilo que é o futebol português nos últimos anos, em que logo a seguir aos três grandes situa-se o Sporting de Braga e depois o rival V. Guimarães - esta época as posições inverteram-se, mas foi uma situação anormal, isto se tivermos em conta a última década. O que podemos deduzir é que o dinheiro não ganha jogos, mas quem faz mais tem mais possibilidades de êxito, pois tem à disposição melhores intérpretes.

Depois há outro tipo de encaixes que beneficiam clubes formadores ao abrigo do mecanismo de solidariedade criado pela FIFA. O Ribeirão, onde Ederson passou depois de ser dispensado... do Benfica, vai receber 200 mil euros, que já têm destinatário: o pagamento de dívidas. O clube entrou em falência e assim qualquer receita será entregue à administradora de insolvência, que por sua vez ressarcirá os credores.

O Real Massamá, em 2005, beneficiou, relativamente ao mesmo mecanismo, de 1,3 milhões de euros devido à transferência de Nani do Sporting para o Manchester United - no valor de 25,5 milhões -, mas aí o clube da Linha de Sintra melhorou as suas infraestruturas, pois as contas estavam equilibradas.

Aliás, há dois anos o Real Massamá voltou a ver a sua conta bancária insuflada com 60 mil euros, pois Nani saiu do Manchester United para os turcos do Fenerbahçe por seis milhões de euros. O Sporting, que também teve intervenção na formação do futebolista, recebeu 120 mil euros, o dobro do Real Massamá.

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