Quando os árbitros assistentes erram menos do que Toni Kroos
Pierluigi Collina não é apenas um antigo árbitro nem o presidente do Comité de Árbitros da FIFA. É também um excelente comunicador, capaz de agarrar uma plateia pelo entusiasmo e pela originalidade com que defende as suas ideias.
E foi na exposição de algo que poucos estavam à espera que deu o toque final numa intervenção singular. "Quero falar de alguém que faz um trabalho muito importante num jogo de futebol. O árbitro pode ter a melhor performance do mundo, mas pode ver tudo estragado se um assistente tiver uma decisão errada. Só fui assistente uma vez na minha vida, o que eu posso ensinar? Nada, temos de trabalhar pessoas com essa especialização, fazer uma instrução apropriada e ministrar cursos específicos. Como se prepara um assistente para a avaliação de um fora-de-jogo? Pois durante os jogos é que se treina", referiu ontem no último dia do Football Talks, ciclo de conferências da Federação Portuguesa de Futebol que decorreu no Estoril.
O italiano deu depois exemplos objetivos: "Vamos falar de números e factos. A percentagem de precisão, de acerto, de um árbitro assistente é de 95%, e por vezes deparam-se com situações de centímetros. Vamos agora ver a precisão de passe entre as cinco melhores ligas europeias, e a melhor de todas é a de Toni Kroos, com 92,8%, depois surgem Thiago Alcántara (90,3%) e Xabi Alonso (89,4%). Perante isto, 5% de decisões erradas é um enorme resultado. Vocês agora já devem olhar para os árbitros de outra forma."
Collina tem poucas dúvidas sobre a consumação do casamento da modalidade com a tecnologia. "Pode-se trabalhar muito na preparação mas, infelizmente, hoje um árbitro muito bem preparado não pode competir com a tecnologia. É impossível o futebol evitar a tecnologia. Em 2012, no Europeu, houve alguma crítica em relação aos árbitros porque uma bola atravessou a linha de golo no Ucrânia-Inglaterra. A tecnologia provou que a bola estava 2,2 cm para lá da linha de golo. O futebol aceitou trabalhar com a tecnologia", referiu.
O ex-árbitro destaca três pilares no trabalho humano, extratecnologia, tendo em vista a redução do erro. "Preparação física, conhecimento das leis do jogo e das equipas. Na primeira é simples de constatar que quando estamos cansados perdemos a lucidez, e isso leva-nos a cometer mais erros. Sobre as leis do jogo, só há dois momentos para os árbitros estarem juntos, setembro e fevereiro, por isso criámos uma plataforma web para interagirmos. Podemos mandar clip e algo para explicar se a decisão foi correta ou errada. E o que deve ser feito pelo árbitro para corrigir a decisão. Sobre o terceiro ponto, o árbitro tem de saber tudo sobre as equipas. Há uma grande diferença entre a marcação à zona ou homem a homem. No Euro 2016 todos os árbitros estiveram acompanhados de treinadores licenciados. Uma das razões pelo que o Euro teve tanto sucesso deveu-se a esse apoio pessoal dos árbitros", referiu.