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<em>Spotlight </em>mostra como o <em>Boston Globe</em> investigou abusos sexuais cometidos por padres. Repórteres "reais" ajudam a contar a história
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Um escândalo sexual encoberto pela Igreja Católica. Centenas de padres associados a crimes de pedofilia. Tudo isto estaria ainda no segredo dos deuses, se uma equipa de repórteres do jornal norte-americano Boston Globe não tivesse arriscado e feito as perguntas certas. É esta a história contada ao pormenor no filme Spotlight, que chegou às salas de cinema norte-americanas a 6 de novembro.

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Mark Ruffalo, Michael Keaton, Rachel McAdams, Liev Schreiber, John Slattery e Brian d"Arcy são os atores que dão vida à equipa vencedora do Prémio Pulitzer, em 2003. Os verdadeiros rostos desta operação jornalística têm, na verdade, nomes menos Hollywoodescos: Michael Rezendes, Walter Robinson, Sacha Pfeiffer, Marty Baron, Ben Bradlee e Matt Carroll, respetivamente.

Tudo começou no final de 2001. O editor do Boston Globe na altura, Marty Baron, insistiu na investigação de uma história que dava conta da existência de processos judiciais contra um padre, por abusos sexuais. A sua curiosidade ficou ainda mais desperta depois de o tribunal selar o acesso a informações e documentos pessoais do arguido. Baron desafiou a equipa Spotlight a desenterrar toda a história do padre John Geoghan, mas rapidamente perceberam que essa era apenas a ponta do iceberg.

"Havia muitos, muito outros padres. Na altura, pensámos que fossem 15 ou 20", recorda o jornalista Walter Robinson. "No fim, já eram quase 250 os padres só em Boston que tinham destruído a vida de várias crianças ao longo de décadas". Durante essa investigação, ele e os seus colegas entrevistaram entre 30 a 40 vítimas, o que muitas vezes lhes exigiu uma extrema "armadura emocional", confessou.

No início do processo, e durante cerca de três semanas, toda a equipa se focou unicamente na criação de uma exaustiva base de dados com o nome dos padres de todas as dioceses nos Estados Unidos. Passaram-se seis meses até que a primeira peça fosse publicada, e seguiu-se mais um ano de investigação. Quando a história rebentou por completo, em 2002, ainda mais pessoas se chegaram à frente. "Recebemos chamadas da diocese de Boston de mais de 300 vítimas em apenas um ou dois meses. E começámos a receber vários testemunhos de pessoas em todo o mundo. Foi incrível", sublinhou Walter.

Para que este filme fosse concretizado, os repórteres e editores originais tiveram um papel essencial atrás das câmaras. "Entrevistámos cada um deles sobre os mesmos momentos, para determinar o que aconteceu. Eles leram quase todos os rascunhos escritos", frisou Tom McCarthy, realizador e co-argumentista de Spotlight, ao The Wall Street Journal.

Sacha Pfeiffer confidenciou, numa conferência, que esta experiência lhe abriu os olhos para "a importância de desafiar a autoridade e as grandes instituições". De facto, sublinha Ty Burr, um colega seu do Boston Globe, "este filme não melodramatiza o que os repórteres fazem. Deixa-os simplesmente fazer o seu trabalho, por mais entediante que seja". Esta pode muito bem ser, aliás, a primeira produção de Hollywood, baseada num jornal, a ganhar o Óscar de Melhor Filme, prevê o The New York Post.

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