Quando o cliente do psicólogo é uma criança ou adolescente

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De forma recorrente, pais e mães questionam-se sobre se têm, ou não, o direito a ser ouvidos e a partilhar as suas preocupações com o psicólogo que acompanha o seu filho do ponto de vista clínico. E também, com frequência, alguns psicólogos recusam escutar estes pais e mães, afirmando estar centrados apenas na criança.

Esta questão remete, então, para duas situações distintas, mas complementares. Em primeiro lugar, sendo o pedido para acompanhamento clínico centrado na criança ou jovem, naturalmente que os seus pais ou representantes legais devem desde logo ser ouvidos e auscultados, não apenas para a recolha do seu consentimento informado, como também de informação que seja pertinente e que possa ser motivo de preocupação para um ou ambos. Significa isto que os pais devem ter um espaço para partilhar as suas dúvidas e necessidades, não somente quando o processo se inicia, mas também ao longo do mesmo, e sempre que se justificar.

Em segundo lugar, e de forma complementar a esta primeira situação, salientar que "quando o cliente é uma criança ou adolescente ou adulto particularmente indefeso em razão de idade, deficiência, doença ou outras condições de vulnerabilidade, pode partilhar-se com os seus representantes legais apenas a informação estritamente necessária para que se possa atuar em seu benefício e em conformidade com a legislação em vigor" (cf. Princípio Específico 2. Privacidade e Confidencialidade, ponto 2.11, relativo a Casos Especiais; Código Deontológico da Ordem dos Psicólogos Portugueses).

Significa, então, que é desejável um processo de comunicação bilateral entre o psicólogo e os pais ou representantes legais do cliente (criança ou jovem), respeitando o princípio da privacidade e da confidencialidade, por um lado, e não esquecendo as suas limitações ou situações de exceção, por outro.

Esta situação assume particular relevância no contexto dos processos de conflito parental em que, com regularidade, o progenitor que não tomou a iniciativa de procurar este acompanhamento clínico se sente excluído e não devidamente escutado por parte do profissional.

Assim, importa sublinhar que não apenas o sistema familiar deve ser envolvido desde o início, como
também que um processo de acompanhamento psiocoterapêutico de uma criança ou jovem terá, necessariamente, maior probabilidade de sucesso quando as suas figuras cuidadoras são devidamente implicadas.

Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal

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