Quando Hemingway escrevia a Marlene

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Marlene Dietrich tratava-o por "papá". Ernest Hemingway chamava-lhe "minha bochezinha" e dizia que ambos eram vítimas de "paixão dessincronizada". O flirt durou quase 30 anos e nunca terá passado disso, mas as cartas que trocaram permitem compreender melhor a personalidade apaixonada de ambos.

A correspondência de Hemingway para Dietrich, enviada de Cuba, Paris, Veneza, Málaga ou Nairobi , foi esta semana tornada pública em Boston, pelo Museu e Biblioteca JF Kennedy - que hoje atribui a Ben Fountain o prémio literário Hemingway Foundation/PEN.

É nesta biblioteca que desde os anos 70 se encontra o espólio do escritor, doado pela viúva, Mary - a quem Kennedy ajudou, em 1961, a resgatar os papéis e obras de arte do casal que se encontravam em Cuba; em troca, o governo de Fidel Castro recebeu a Finca Vigia, onde moravam, e todo o recheio da casa.

Em 2003 foi a vez de Maria Rivas, filha de Marlene Dietrich, doar à biblioteca os documentos enviados à estrela de Hollywood, entre 1949 e 1959, pelo autor norte-americano de Adeus às Armas e Por Quem os Sinos Dobram. De acordo com o site www.jfklibrary.org, é este acervo que agora se pode ver em Boston: 25 cartas, quatro telegramas e um postal de Natal, além de manuscritos com primeiras versões do livro Na Outra Margem Entre as Árvores e dois poemas (First Poem to Mary in London e Poem to Mary).

"Tesouros americanos"

"Estas novas cartas ajudam a completar a história da extraordinária amizade entre duas pessoas excepcionais", afirma Tom Putnam, director da biblioteca, citado pelo The Boston Globe. Brincalhão, filosófico ou confidente, relatando até pormenores da sua vida amorosa, é assim que Hemingway se revela.

Ao mesmo jornal, Peter Riva, neto de Dietrich, explica que, quando em 1993 a sua mãe decidiu vender ao governo alemão o espólio da actriz de O Anjo Azul, fez questão de excluir as cartas de Hemingway. "Ela considerava-as tesouros americanos e queria preservá-las para a nação", recorda, acrescentando que alguns amigos tinham aconselhado a venda, pois esta correspondência valeria alguns milhões de dólares.

Hemingway (1899-1961) e Dietrich (1900-1991) conheceram-se em 1934, a bordo do transatlântico Île de France. Duas personalidades fogosas, que de imediato se sentiram atraídas. Mas, como o escritor contou um dia ao seu biógrafo, A.E. Hotchner, os acessos de paixão de ambos nunca foram simultâneos. Por isso, garante o neto da actriz à ABC, nunca terão deixado de ser apenas"grandes compinchas". PL

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