Quando eles se tornam "profissionais de reality show"
Dezasseis anos depois da estreia do primeiro reality show em Portugal - o formato holandês Big Brother criado por John de Mol em 1999 - que sagrou o alentejano Zé Maria como vencedor, muito mudou na mentalidade de quem decide concorrer a este tipo de formatos. Se, à época, ninguém tinha vivido uma experiência semelhante, quem atualmente participa tem uma visão informada e esclarecida da dinâmica do jogo e, muitas vezes, contribui por iniciativa própria para aquilo que julgam ser o melhor para as audiências e para o público. Que o diga Gisela Serrano que ficou conhecida no programa da SIC Masterplan, em 2002. "Sei o que é que a produção quer e tem como objetivos para o jogo e, quando me convidam, já sabem perfeitamente que não precisam de me orientar", explicou a concorrente que afirma ser das que mais ganhou em reality shows até hoje. "Antes de entrar negoceio muito bem os cachês", sublinhou.
Os objetivos para quem concorre pela primeira vez já não são tão "puros" como em 2000. A intenção de viver uma nova experiência foi substituída pelo dinheiro e a notoriedade que advêm destes formatos. No caso de quem já soma várias participações, o lado da estratégia e do "gosto e vício pelo jogo" tornam-se nas principais motivações. "Fica-se com o "bichinho" do reality show. Gosto realmente deste jogo", explicou Luís Nascimento que se tornou, no domingo, o primeiro concorrente a vencer dois realities em Portugal, depois de ter ganho A Quinta - O Desafio e ter levado seis mil euros para casa. Um valor muito inferior ao que o vencedor da última edição de A Fazenda, formato brasileiro semelhante, conseguiu ganhar: 492 mil euros.
Mas será que o protótipo do "bom concorrente" mudou? Lurdes Guerreiro, diretora-geral da produtora Endemol Portugal, não tem dúvidas e realça ao DN que basta olhar para o perfil dos vários vencedores, embora algo se mantenha igual. "Um bom concorrente tem que ser carismático e que não deixe ninguém indiferente", sublinhou a responsável.
Já Piet-Hein, antigo diretor-geral da mesma produtora e um dos responsáveis pela primeira seleção de concorrentes para o Big Brother, destaca que a mudança está na consciência das pessoas. "Se antes a experiência era quase nula, hoje em dia sabem muito bem para onde é que vão. Por exemplo, uma Fanny ou uma Érica são pessoas que se tornaram numa espécie de profissionais de reality show. Comportam-se pensando nas audiências e no que resulta bem para o jogo", afirmou o atual diretor da SP Entertainment. Fatores importantes para manter o interesse do público. Embora tenham registado uma quebra de audiência nos últimos dois anos, as galas dos realities, que na TVI têm tido quase sempre Teresa Guilherme como anfitriã, são sempre vistas por mais de um mihão de espectadores.
Desta forma, os recentes spin-offs, os chamados Desafios da Casa dos Segredos e de A Quinta têm ajudado na criação destes profissionais que juntam ao seu currículo várias participações. Na hora da escolha, o psicólogo Quintino Aires não tem dúvidas que são os concorrentes mais frontais que conseguem tocar mais pessoas e, por isso, mais facilmente convidados para regressar. "Somos um povo que não tem capacidade de dizer aquilo que pensa. Quando aparece alguém assim, admiramos porque faz o que não conseguimos fazer", sublinha o psicólogo, habitual comentador deste tipo de formatos na TVI.
No resto do mundo, a tendência de apostar nos mesmos concorrentes para compor o elenco de um reality show também é seguida, embora em menor escala do que em Portugal. Kate Lawler, de 35 anos, ilustra bem esse cenário. A britânica já participou em quatro e saiu vencedora da terceira edição do Big Brother. Analisando um caso bem próximo, Alexandre Frota, de 52 anos, já participou em três realities diferentes. Dois em Portugal (Quinta das Celebridades e 1ª Companhia) e um no Brasil (Casa dos Artistas).
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