Com a publicação de Asilo Arkham pode-se dizer que a editora Devir concluiu um dos seus mais meritórios trabalhos colocar à disposição dos leitores portugueses as aventuras de Batman que mais marcaram a BD americana a partir da segunda metade dos anos 80. Depois de Batman Ano Um (de David Mazzuchelli e Frank Miller), de O Regresso do Cavaleiro das Trevas (de Frank Miller) e de Piada Mortal (de Alan Moore e Brian Bolland), Asilo Arkham,de Grant Morrison e Dave McKean, encerra o conjunto de obras superlativas que, com a ajuda inestimável dos filmes de Tim Burton, transformaram Batman num dos heróis mais populares das últimas décadas..Convém, contudo, manter um certo distanciamento crítico em relação a esta colaboração entre Morrison e McKean, que fica um pouco aquém das três obras-primas citadas. Embora sendo um trabalho de enorme qualidade, há um certo desequilíbrio entre o argumento do escritor escocês e os desenhos do ilustrador inglês. Não por o argumento de Morrison ser mau - longe, mesmo muito longe disso -, mas por o trabalho gráfico de Dave McKean ser absolutamente excepcional. Não vale a pena ter medo das palavras McKean é um génio visionário, e pode muito bem ser considerado o mais fascinante desenhador do mundo a trabalhar no campo da banda desenhada e nas regiões adjacentes..Mas deixemos McKean em suspenso por um pouco. O que se passa, então, com o argumento de Grant Morrison? Digamos que há nele um desejo de erudição (muita citação de Lewis Carroll) e de esoterismo (as cartas de Tarot) ao qual falta alguma clarividência, porque não é Alan Moore quem quer. É fácil perdermos o fio narrativo no interior de Asilo Arkham, o local onde repousam todos os inimigos de Batman - liderados pelo incansável Joker -, tanto mais que a intriga paralela que envolve o criador do asilo tem limitações. Bem mais interessante é a colocação de Batman no meio dos desequilibrados mentais e a sugestão de que a fronteira entre sanidade e loucura está bastante diluída no caso do Cavaleiro das Trevas. É, aliás, assim que termina o livro, com esta grande frase de Joker para Batman no momento em que ele se afasta de Arkham "nunca te esqueças que, quando as coisas correrem mal... há sempre um lugar para ti aqui dentro"..Mas se Asilo Arkham atingiu o estatuto de culto desde que começou a ser publicado em 1989 é 20 por cento por causa do texto e 80 por cento por causa dos pincéis de Dave McKean. Aliás, dizer "pincéis" é dizer pouco - porque a marca distintiva do autor inglês é a forma como é capaz de combinar as mais diversas técnicas e os mais diversos materiais (fotos, colagens) num todo absolutamente coerente. Como se isto não fosse pouco, há ainda um prodígio adicional McKean desenha uma aventura de Batman onde do herói pouco mais se vê do que sombras e silhuetas. Notável..asilo arkham.Autora. G. Morrison e D. Mc Kean.Editora. Devir.Páginas. 128.Género. Banda desenhada.Preço. 11.Classificação.