Quando cuidar das pessoas é cuidar do negócio
Quando cuidamos das nossas pessoas, as pessoas cuidam do nosso negócio." A frase não é minha, é de Simon Sinek, reconhecido autor especialista em liderança, mas é um princípio que pode mudar as empresas que gerem os seus recursos humanos e consequentemente a performance do seu negócio.
A indústria farmacêutica é um setor de pessoas para pessoas. Criamos e comercializamos produtos na área da saúde e dependemos muito da performance das nossas pessoas e das relações que se criam com os nossos parceiros. E por isso o bem-estar das nossas pessoas tem de estar sempre no centro da nossa atividade.
Li há dias um artigo no jornal britânico The Guardian sobre burnout que referia que nós não trabalhamos só por dinheiro1. O chamado "salário emocional" tem uma enorme importância hoje em dia: as pessoas precisam de sentimento de pertença, sentir que cumprem objetivos e que o seu esforço e empenho são reconhecidos. E hoje, mais do que nunca. Estes últimos quase dois anos de pandemia tiveram um impacto sem precedentes no nosso bem-estar físico e mental, desafiando a nossa capacidade de adaptação e reinvenção do ponto de vista pessoal e profissional.
Embora o contexto da saúde mental na Europa já fosse preocupante antes da covid-19, com mais de 84 milhões de pessoas com problemas de saúde mental e 165 mil mortes anuais devido a doença mental ou suicídio2, há cerca de um ano, os resultados do estudo "Saúde Mental em Tempos de Pandemia (SM-COVID19)", coordenado pelo Departamento de Promoção da Saúde e Prevenção de Doenças Não Transmissíveis do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, em colaboração com o Instituto de Saúde Ambiental da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e com a Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental (SPPSM), indicaram que cerca de 25% dos participantes apresenta sintomas moderados a graves de ansiedade, depressão e stress pós-traumático3. O estudo, que avaliou dimensões como ansiedade, depressão, stress pós-traumático, burnout e resiliência, demonstrou o impacto das alterações provocadas pela covid-19 na saúde mental e no bem-estar da população, sobretudo naquelas que estavam na primeira linha de combate à pandemia.
Mais recentemente, em outubro de 2021, foram conhecidos os dados do Índice de Saúde Mental Headway 2023, um quadro multidimensional realizado em países da União Europeia e no Reino Unido no âmbito do Headway 2023 (iniciativa de saúde mental concebida e lançada pela The European House - Ambrosetti, em parceria com a Angelini Pharma). As conclusões deste relatório refletiram também o impacto da pandemia, que se percebeu ter afetado desproporcionalmente a saúde mental das mulheres face aos homens, tanto no trabalho como em casa4 .
O mesmo índice sublinhou a necessidade urgente de os empregadores estabelecerem sistemas apropriados para responder às necessidades de saúde mental, o que leva a outros dois aspetos que a pandemia agitou, intimamente ligados ao nosso bem-estar: o campo familiar e profissional. O bem-estar e a saúde mental interferem indubitavelmente com a produtividade e a motivação. O equilíbrio entre estes dois territórios tornou-se um dos maiores dilemas gerados pela pandemia. Gerir de forma harmoniosa as prioridades e o tempo, num clima de incerteza, insegurança e mudanças constantes, é um verdadeiro desafio.
Isto levanta uma questão que merece reflexão: o que faz uma empresa hoje em dia ser um exemplo na forma como gere os seus colaboradores e estar entre as melhores para se trabalhar? Enquanto general manager de uma empresa que se dedica a promover o bem-estar físico e mental das pessoas que escolhem as suas soluções terapêuticas, acredito que é fundamental assegurar o bem-estar e a saúde mental daqueles que tornam isso possível.
Isto leva-nos a outro ponto fundamental na gestão de recursos humanos: a retenção de talento. Nenhuma empresa pode ser considerada um empregador de excelência se não conseguir uma relativa estabilidade dos seus quadros e reter os melhores. E, hoje em dia, só as empresas que têm o equilíbrio entre vida pessoal e profissional no centro das suas preocupações prosperam na retenção de talento. Temos um mercado de trabalho invadido pela geração millennial que, segundo a consultora Gallup, especializada na gestão de recursos humanos, são pessoas que criam pouco envolvimento com as organizações onde trabalham e andam frequentemente à procura da próxima "grande oportunidade"5.
Neste sentido, acredito inteiramente que capacitar as pessoas que estão atrás dos negócios, dando-lhes ferramentas e estratégias que contribuam para o seu bem-estar físico e mental, promovendo um equilíbrio saudável da sua vida pessoal e profissional, é vital.
Por outro lado, em grande parte fruto do contexto pandémico, verificam-se hoje novas tendências6 no que respeita à atração e retenção de recursos humanos, que passam por exemplo por home office, ou regime híbrido, flexibilização de local e horários de trabalho e envolver os colaboradores no processo de tomada de decisão. Estes aspetos levantam outra questão: será que as pessoas que trabalham em companhias que consideram ter uma cultura flexível sentem o mesmo ou na mesma proporção que a liderança? Um trabalho de pesquisa da consultora Gartner7 mostra que não: percebeu que 75% dos líderes acreditam ter uma cultura de flexibilidade, mas apenas 57% dos colaboradores concordaram; e a mesma percentagem de liderança sentiu que considera a opinião dos seus colaboradores na tomada de decisões, enquanto 47% destes últimos concordaram.
Hoje em dia, e talvez mais do que nunca, as pessoas procuram um trabalho que vá ao encontro dos seus valores e do seu estilo de vida. Creio que esta tendência foi simplesmente acelerada pelo panorama pandémico. Mais do que oferecer uma oportunidade de trabalho, é importante que as empresas proporcionem uma boa experiência, incluam, ouçam e, acima de tudo, cuidem das suas pessoas. Isto é ser um top employer e a Angelini Pharma Portugal foi distinguida como tal terceiro ano consecutivo.
General manager Angelini Pharma Portugal