Quando Agatha Christie escreveu sobre o que o Estado Islâmico destrói

<em>Come, Tell Me How You Live</em> descreve as impressões da Rainha do Crime em viagem pelo norte da Síria, hoje tomada por fundamentalistas, durante as expedições arqueológicas que fazia com o marido
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"Inshallah [se Deus quiser], hei de voltar lá, e as coisas que eu amo não se terão extinguido desta Terra..." Agatha Christie falava da Síria. Esta é a última frase de Come, Tell Me How You Live (Harper Collins, 1946, aqui em tradução livre), "crónica serpenteante" que "não é um livro profundo... É, de facto, uma ninharia, um livro muito pequeno, constituído de feitos e acontecimentos quotidianos".

A Rainha do Crime, autora de cerca de uma centena de títulos e de cuja mão saíram personagens como Poirot e Miss Marple, assina o livro com o nome Agatha Christie Mallowan. Este último de Max Mallowan, seu marido e arqueólogo britânico cujas expedições a escritora acompanhou - nelas participando na fotografia e catalogação das escavações e descobertas - durante três décadas. Esta "crónica inconsequente", outro dos nomes que lhe dá, é agora lançada pela Harper Collins numa nova edição ilustrada por mais fotografias e que deverá chegar ao mercado durante o próximo mês.

Passaram quase 70 anos. Palmira, "adorável e fantástica e inacreditável, com toda a inverosimilhança teatral de um sonho" e que "não é real - não pode ser - real", está desde maio nas mãos do autoproclamado Estado Islâmico (EI). No último domingo, o grupo jihadista fez explodir o templo de Baal Shamin (século XVII AC) naquela cidade que a Unesco classificou como Património da Humanidade. Dias antes, havia decapitado um dos maiores especialistas dos tesouros arqueológicos da cidade, Khaled al-Assad.

Come, Tell Me How You Live (Na Síria, Conta-me Cá Como Vives na edição portuguesa, Tinta da China, 2010) nasceu para ser resposta a quem, a cada regresso a Inglaterra, perguntava a Christie como vivia durante os meses que duravam as expedições arqueológicas pela Síria e pelo Iraque. Nem por um segundo ingénua, a autora - que tanta gente matou e tantos assassinos descobriu - sabia que a maioria apenas fazia "uma pequena mudança de conversa". Todavia, havia "um ou dois" que queriam realmente saber.

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