Quando a aventura se chamava Bruce Lee

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A edição de uma caixa com cinco títulos de Bruce Lee remete-nos para memórias que remontam à primeira metade da década de 70. Os espectadores que viveram a adolescência nessa altura lembrar-se-ão, por certo, do entusiasmo provocado pelos filmes de artes marciais (kung fu, de acordo com o rótulo comercial da altura). Em Lisboa, desde logo, porque tais filmes passaram por salas da Baixa (como o Eden) que tinham, de facto, uma vocação específica para o cinema de aventuras; para além disso, o fenómeno desencadeou alguns apaixonados debates sobre a importância (ou não) deste novo conceito de espectáculo que chegava de Hong Kong e, em particular, da Golden Harvest, produtora de Raymond Chow.

Passados mais de 30 anos sobre a revelação espectacular de Bruce Lee, pode dizer-se que o seu nome se fixou, de forma paradoxal, na história do cinema por um lado, agora mais do que nunca, parece óbvio que os seus filmes eram sustentados por um aparato (técnico e narrativo) francamente limitado; por outro lado, o estilo Bruce Lee acabou por contaminar, directa ou indirectamente, os mais diversos títulos da produção internacional, incluindo os mais modernos exemplos do género, como O Tigre e o Dragão (2000), ou algumas reconversões esotéricas como a trilogia Matrix (1999-2003).

A edição é, infelizmente, pobre naquilo que poderia ser um dos seus trunfos mais apetecíveis os extras. Para além dos trailers e de alguns bloopers (planos falhados durante a rodagem), há apenas algumas entrevistas com realizadores, actores e técnicos que, além de breves e superficiais, surgem tratadas com um visual exuberante, algo espalhafatoso. Perde-se, sobretudo, a oportunidade de recordar um contexto (de produção e difusão) em que estava ainda por aparecer a vaga moderna de filmes de aventuras fabricados por Hollywood. Essa vaga viria a ter Steven Spielberg e George Lucas como decisivos mentores, sendo, de facto, iniciada com a confluência definida por Tubarão (1975) e A Guerra das Estrelas (1977). Bruce Lee emerge antes de tudo isso, através de títulos como Big Boss, o Implacável (1971), O Invencível (1972), ambos assinados por Lo Wei, e A Fúria do Dragão (1972), este já dirigido pelo próprio actor que, entretanto, ascendera também à condição de produtor.

Além desses três títulos, a "Colecção Bruce Lee" inclui ainda O Último Combate de Bruce Lee (1978), de Robert Clouse, e O Novo Combate de Bruce Lee (1981), de See-Yuen Ng. São dois filmes póstumos, uma vez que Bruce Lee morreu, inesperadamente, a 20 de Julho de 1973 (contava 32 anos), vitimado por um edema cerebral. Em ambos os casos, podemos assistir a um empreendimento condenado ao fracasso, embora com alguns aspectos delirantes a "invenção" de sequências e histórias para enquadrar as poucas imagens inéditas de Bruce Lee.

O Último Combate de Bruce Lee, ainda iniciado pelo actor, corresponde já a uma fase de envolvimento com a produção americana, mais concretamente com a Warner Bros. (o mais famoso filme resultante dessa aliança, O Dragão Ataca, também realizado por Robert Clouse, em 1973, já existia no mercado do DVD). Quanto a O Novo Combate de Bruce Lee, não passa de uma tentativa patética para sustentar um mito que já não tinha imagens para oferecer.

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