Qual será a trajetória e impacto da inflação e do aumento das taxas de juro nos bolsos e na economia?
A inflação tem atingido patamares na Zona Euro incomparáveis e distópicos, quebrando a barreira dos 5%, à luz do Eurostat, um novo recorde Guinness, o que não sucedia desde os finais do século XX (1997), estrangulando os consumidores finais que já sentem um peso hercúleo nas suas carteiras e no seu Daily Basis, nomeadamente com o preço da eletricidade, alimentação, bens industriais não energéticos, do combustível a disparar para valores que somente as elites, o capitalismo selvagem ou até mesmo os pais ricos com os seus cartões de crédito Visa Black podem dispor, ao contrário do cidadão médio que quando chega ao fim do mês sente que perdeu o seu poder de compra outrora existente ficando a contar os tostões que enchem os seus casacos e rebentam paulatinamente as costura da sua boa vontade.
Portugal encontra-se cheio de sorte? O nosso país surge na fotografia soberana com uma taxa de inflação abaixo da restante Zona Euro, a segunda mais baixa de todo o espaço económico envolvendo a moeda única, por via de uma taxa de inflação a rondar quase os 3,5%. Mas afinal o que é a inflação e porque é que ela sobe e desce como um miúdo a ser empurrado num baloiço sem fim a vista?
Este fenómeno assenta em cinco grandes fatores, sendo eles os gastos públicos, isto é, um governo pulveriza mais Money do que aquele que arrecada; a inércia, que configura as situações em que os empregadores para não colocar a sua tesouraria em xeque-mate ou para maximizar sem horizonte os seus lucros, decidem aumentar os preços dos seus bens e serviços, acabando por sufocar o mexilhão do costume, por outro lado, os trabalhadores reclamam vencimentos mais elevados para fazer face às subidas dos preços dos produtos ficando reféns do capitalismo assente cada vez menos no humanismo, na ética e na moral entregando-se aos números, aos ganhos, aos dividendos, olvidando o capital humano combustível de qualquer atividade económica.
O elemento seguinte é a indexação que versa no ajustamento dos salários em relação às variações do custo de vida dos trabalhadores, por forma a que estes não percam o seu poder real de compra, blindando-os da desvalorização da moeda, garantindo-se assim paz social, estabilidade e previsibilidade. O quarto é a produção baixa, ou seja, as empresas produzem menos que a procura e tal situação pode ter ocorrido atualmente face à investida que a covid-19 portou para estas, em que a redução de atividade atingiu quase os 50% e quase um quinto destas tornaram-se insolventes, fechando assim as portas, rompendo o grande tecido empresarial português composto na grande fatia por micro e pequenas empresas, que possuem menos capacidade de aguentar a volatilidade na liquidez e na faturação, à luz de um estudo produzido pelo MDS Research. Por conseguinte, a escassez de mão-de-obra alvoreceu, tornando-se a doença de difícil cura e mais transmissível do presente, o que impele a necessidade de importação de recursos humanos, bem como, a subida de preços que assolará os consumidores finais, desenhando-se uma trajetória que se irá auto-imprimir, uma vez que, com este desprovimento a subjetividade e arbitrariedade dos "foge impostos" e dos "rapa moitas" passa a ser o novo "Bom dia".
Uma outra característica abarca o aumento dos custos de produção, sendo um indicador relacionado com a despesa económica realizada pelas empresas para produzir a posteriori bens ou serviços, como a título de exemplo, se as empresas procurarem financiamento bancário para iniciarem ou se manterem à tona em relação aos seus projetos e as taxas de juros se encontrarem elevadas, o preço apresentado ao consumidor final também disparará para valores mutáveis. Um último elemento, prende-se com a existência de cartéis, em que estes casam simbolicamente através de uma união de facto frágil para combinarem entre si preços, limitando a oferta e aumentando os seus lucros, uma vez que para estes o dinheiro fala sempre mais alto que a preocupação do impacto que decisões como esta poderão ter na economia real e na vida do cidadão comum.
A recuperação económica que a pandemia carreou para o processo de manutenção e contínuo crescimento económico, financeiro e social dos Estados, criará muitas mazelas na carteira das empresas e das pessoas, visto que o aumento dos preços dos produtos e a potencial subida das taxas de juro será inevitável, atingindo-se o elemento teleológico, sendo ele o controlo do aumento dos preços pelo controlo das rédeas da procura, o que criará um afastamento natural entre a oferta e a procura, garantindo assim a domesticação da inflação, por meio da redução do consumo, o que trará ao de cima novamente a valorização da moeda dessa economia.
Toda esta Roller Coaster de emoções, irá certamente provocar um sentimento agridoce e de angústia para aqueles que ou vivem no limiar da pobreza ou na classe média. Nos EUA, os preços alavancaram de uma forma inesperada o que fez com que a Reserva Federal pretendesse estancar a hemorragia com a tal subida das taxas de juro, sendo a consequência natural da contração económica provocada pelo bicho invisível sui generis. Este aumento também servirá para que a banca ganhe novamente a margem e folga financeira que necessita para não ficar cativa de outras rubricas, não se tornando esquelética.
Não pode ser olvidado a subida das Euribor para 1% o que vem agravar e abrir uma ferida alegadamente curada, uma vez que tal elevação custaria 63 milhões por mês às famílias, através do crédito à habitação, incrementando ainda a prestação mensal a amortizar nos seus créditos, uma grave injustiça, visto que a par disto ainda se encontram a lutar uma outra frente, a da inflação (aumento generalizado dos preços e serviços). Ulteriormente, o Banco de Portugal (BdP), entidade reguladora do setor bancário em Portugal determinou um limite máximo de idade para o crédito a habitação, em que para clientes acima dos 35 anos a maturidade terá um teto máximo de 35 anos e créditos que vão até aos 40 anos para aqueles que tenham até 30 anos, entrando estas alterações em vigor dia um de abril deste ano. A legitimidade e fundamento invocado pelo BdP é de que as instituições bancárias não assumam riscos excessivos no que concerne à concessão de créditos, prevenindo-se choques adversos, minimizando o risco de incumprimento e promovendo-se o financiamento sustentável e a recomendação atual e em vigor define o prazo máximo de 40 anos para pagamento de empréstimos, o que tornava as finanças pessoais mais leves e fáceis de gerir, com um peso de prestação mensal comportável para o homem médio. Este tipo de medida fará com que o mercado se torne mais seletivo, mais elitista, empurrando os que não nasceram num berço de ouro numa senda de segregação no que tange à entrada ou investimento em Real Estate, uma vez que nem todos podem inicialmente ter a capacidade financeira de comportar prestações elevadíssimas face igualmente à taxa de esforço que já apresentam.
Contudo, ao longo deste ano teremos o resultado da "prova dos nove", isto é, será percetível a "olho nu" se as famílias irão conseguir suportar todos os novos encargos e mais elevados inimputáveis, o que pode configurar um aumento da venda ao desbarato dos imóveis para saldarem dívidas, ou por outro lado, as instituições bancárias poderão alargar o período de carência para a amortização dos empréstimos, todavia, o princípio da incerteza é aquele que modernamente reina e se encontra a produzir efeitos no quotidiano.
Finalista da Licenciatura em Direito