Quais, quais, quais, quais, quais, quais...

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Leram, ontem, neste vosso jornal? A Folha de S. Paulo, com o qual o DN tem um acordo de parceria, publicou um estudo surpreendente: seis em dez jovens brasileiros gostariam de ir viver para o estrangeiro. Não se sabe bem porquê, já que Carmen não foi feliz em Hollywood. Outro resultado da tal pesquisa é ainda mais surpreendente e tem a ver connosco: logo a seguir aos EUA, o destino preferido dos brasileiros é Portugal, 8%. Deve ser uma fixação: os brasileiros com vontade de partir ou querem ir para onde foi Carmen Miranda, ou para de onde ela veio (a mais famosa brasileira de sempre nasceu em Marco de Canaveses). Carmen à parte, o facto é este: de todos comparáveis com Portugal, os países da União Europeia, nenhum recolhe mais do que 2% de vontade de destino. A pesquisa teve uma confirmação ainda na edição de ontem da Folha de S. Paulo. Entrevistando o cônsul de Portugal em São Paulo, Paulo Lourenço, o jornal ouviu-o falar menos como diplomata mas mais como "obstetra": nos últimos dois anos, no consulado da capital paulista, 50 mil brasileiros registaram-se como portugueses. "O maior berçário [leia-se maternidade] de portugueses no mundo", exagerou Lourenço. Vocês sabem, daquelas naturalizações feitas por se ter avós portugueses. Gostei mas fiquei a pensar: que injustiça! E explico o meu protesto: dessa naturalização Adoniran Barbosa (1910-1982) não pôde ter beneficiado, pois era filho de Francesco Rubinato e Emma Ricchino, camponeses analfabetos vindos da região de Veneza... Ele, Adoniran, o letrista de Trem das Onze ("não posso ficar..."), o poeta que levou o melhor português para as mais belas canções, não podia ter passaporte português! Mas, vá lá, a outros 50 mil foi-lhes satisfeita essa vontade. E muitos mais, jovens brasileiros, gostariam de vir para Portugal. Junte-se essa vontade de comer (a notícia de ontem) com a nossa fome (a notícia da semana passada sobre o nosso défice demográfico) - vão uma com a outra. E recorde-se uma das nossas qualidades fundas, a que leva outros a desejar Portugal: a forte identidade que somos. Logo, se precisamos de gente para vir, que melhor aceitar do que aqueles que foram embalados na infância por estas palavras: "E além disso mulher/ Tem outra coisa/ Minha mãe não dorme/ Enquanto eu não chegar..." Quaiscalingudum...

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