Putin destaca a secreta russa para reforçar a segurança da ponte da Crimeia após explosão

A ponte de Kerch, que o presidente inaugurou em 2018, ficou parcialmente destruída, com o tráfego automóvel a fazer-se por apenas uma via. Kiev não reivindicou responsabilidade, mas Moscovo também não apontou o dedo.
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Símbolo da anexação russa da Crimeia e importante via de abastecimento para as tropas de Moscovo no sul da Ucrânia, a ponte de Kerch ficou ontem parcialmente destruída numa explosão. Os ucranianos congratularam-se, mas não reivindicaram a responsabilidade - apesar de alegarem que "tudo o que é ilegal tem que ser destruído". Os russos não apontaram o dedo a Kiev, mas consideraram que a reação que veio da capital ucraniana "é testamento da natureza terrorista" do "regime". O presidente russo, Vladimir Putin, ordenou aos serviços de informação (FSB) o reforço da segurança da ponte.

"De forma a aumentar a eficácia das medidas para proteger o corredor de transportes do estreito de Kerch", além da rede elétrica e do gasoduto que passa por Krasnodar, Putin assinou um decreto a "confiar ao FSB a autoridade para organizar e coordenar medidas para proteger" essas infraestruturas. Isto numa altura em que as lideranças militares estão debaixo de críticas. O presidente ordenou ainda uma investigação à explosão que matou três pessoas, tendo sido retirados das águas os corpos de um homem e de uma mulher, que seguiam num carro na ponte.

A explosão às 06.07 em Moscovo (04.07 em Lisboa) e, segundo o comité nacional antiterrorismo, "foi desencadeada num veículo de carga na parte rodoviária da ponte", que por sua vez "incendiou sete tanques de combustíveis de um comboio que ia a caminho da península da Crimeia". Como consequência, "duas secções da autoestrada colapsaram parcialmente".

Ao final do dia, tanto o trânsito rodoviário (numa só via) como ferroviário tinham sido retomados na ponte de 19 km, a maior da Europa, que Putin inaugurou em 2018. Como alternativa à ponte, que tem servido para transportar tropas e equipamento para a guerra, existem ferrys e é possível a ligação por terra pelos territórios ocupados - e anexados após os falsos referendos.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, reagiu ao final do dia à explosão. Num vídeo no Facebook disse que o dia esteve quente e ensolarado na maior parte da Ucrânia, mas "infelizmente estava nublado na Crimeia. Apesar de estar quente também".

Horas antes, o seu conselheiro, Mykhailo Podolyak, tinha escrito no Twitter: "Crimeia, a ponte, o início. Tudo o que é ilegal tem que ser destruído, tudo o que foi roubado deve ser devolvido à Ucrânia." Noutra mensagem, mais tarde, considerou que diante de uma suposta luta de poder entre os serviços secretos russos e o Ministério da Defesa era "óbvio" quem era o responsável. "O camião chegou da Federação Russa", referiu.

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Na mesma rede social, o Ministério da Defesa ucraniano pergunta: "O cruzador Moskva e a ponte Kerch - dois notórios símbolos do poder russo na Crimeia russa - caíram. Qual é o próximo?" Vários responsáveis partilharam também memes alegando que a explosão era o presente de aniversário de Putin, que fez 70 anos na sexta-feira. Assuma ou não a responsabilidade da explosão, Kiev irá colher os frutos de mais esta vitória. Pelo menos até à resposta de Moscovo.

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No passado, a Rússia ameaçou retaliar em caso de ataque à ponte, tendo também deixado claro que "qualquer ataque à Crimeia iria desencadear uma retaliação massiva" da parte de Moscovo. Contudo, as explosões de uma base militar no final de agosto na península anexada em 2014 ficaram sem resposta.

Desta vez há mais vozes a exigir essa retaliação, numa altura em que Putin já ameaçou recorrer às armas nucleares. Na Crimeia, as autoridades apontaram o dedo aos "vândalos ucranianos", mas também procuraram retirar importância à explosão, reiterando que os fornecimentos estão garantido (ontem houve logo uma corrida aos postos de abastecimento).

O ataque à ponte é mais um revés para Putin, após semanas em que as suas tropas têm vindo a perder terreno - incluindo nos territórios anexados ilegalmente. Os serviços de inteligência da Defesa britânicos, no seu relatório diário da situação na Ucrânia, apontavam ontem para a crescente onda de críticas à liderança do Ministério da Defesa russo. "As críticas continuam focadas no alto comando militar em vez da liderança política sénior, mas representam uma tendência para expressar publicamente a voz da dissidência contra o establishment russo, que é pelo menos parcialmente tolerado e que provavelmente será difícil de reverter", indica o relatório diário.

Em resposta, Putin nomeou Sergey Surovikin como "comandante do Agrupamento Conjunto de Forças nas áreas da operação militar especial". O general de 55 anos é um veterano da guerra civil no Tajiquistão na década de 1990, da segunda guerra na Chechénia no virar do milénio e da intervenção russa na Síria, lançada em 2015.

susana.f.salvador@dn.pt

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