Putin, Centeno, Passos, Merkel, Costa. Qual deles?

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Na mesma semana em que tentaram tirar o tapete a Portugal em Bruxelas, eis que o assunto do segundo resgate veio ensombrar os mercados e alimentar a gula dos especuladores quando aumenta o risco país. O pior é que a imagem do país deteriorou-se em vários palcos.

- Bruxelas: o luxemburguês Juncker, presidente da Comissão Europeia, e Hollande, presidente de França (com a ajuda do comissário gaulês Moscovici e o curioso empurrão da alemã Merkel) decidiram ajustar contas com Durão Barroso (abanando o papão dos tentáculos do GS - Goldman Sachs), atacando o alvo mais fácil: um português, ex-presidente da Comissão, que se mudou para Londres, o lado do brexit, para fazer lobbying financeiro... tudo isto sob a capa da suposta falta de ética e da criação de regras de conduta aplicáveis, em cima do momento, ao ex-poderoso de Bruxelas.

Afinal, o que fez Barroso de tão errado - ao aceitar ser chairman do perigoso GS - se Mario Draghi, presidente do BCE, veio da banca de investimento ou o ex-chanceler alemão Gerhard Schröder foi trabalhar para a Gazprom? E quais são as regras que se aplicam agora e que não se aplicaram aos outros? E terão os senhores Juncker e Hollande ética e moral para atirar pedras? Teriam atacado com a mesma energia se fosse um antigo líder alemão ou francês ou de outra potência europeia? O meu princípio é simples: as regras têm de ser iguais para todos. Mas não há coincidências...

- Nova Iorque: António Guterres, um dos outros raros portugueses conhecidos a nível mundial e candidato a secretário-geral da ONU, é alvo, na mesma semana, de um ataque inesperado de Angela Merkel - acossada pelos problemas político-partidários internos e preocupada com a força da direita europeia (PPE) -, que decidiu jogar a cartada da comissária europeia búlgara para a ONU, mais uma vez violando todas as regras.

- Guterres vai a jogo, cumpre as regras e vence. E, de repente, a meio do jogo, fora das regras, os alemães tiram da cartola uma comissária da Bulgária, com o pretexto de que o ainda secretário-geral da ONU já tinha defendido que fosse mulher a próxima líder. (Nota: eu defendo as mulheres no poder, mas não desta forma. Não contra as regras, não contra os homens, mas pelo seu mérito próprio.)

Paradoxalmente, a candidatura portuguesa de Guterres acabou por contar, também nesta semana, com o apoio inesperado de Putin; ou seja, Guterres junta agora no mesmo tapete o apoio tácito do norte-americano Obama e do russo Putin.

- Sófia: boa parte disto joga-se num tabuleiro de xadrez na capital da Bulgária, no "encontro de Arraiolos", que desde o tempo do presidente Sampaio junta países do Sul com países do Centro e do Leste da Europa. Infelizmente, Lisboa não domina há alguns anos esse tabuleiro. Merkel tenta influenciar na Bulgária o futuro da União Europeia e da ONU.

- Arraiolos: vale a pena lembrar que o pontapé de saída foi aqui, na vila alentejana conhecida pela arte da tapeçaria. Às vezes, o inesperado acontece: quando olhamos para o tapete de Arraiolos, eis que surge Putin, qual Aladino, esvoaçante, abraçado a Guterres... e a despentear a senhora Merkel.

- Berlim: coincidência ou talvez não, tudo isto isto acontece quando a Comissão (leia-se Berlim) ameaça com cortes de fundos comunitários a Portugal, que tão necessários são para estimular a economia e as empresas. Mas a política do pau e da cenoura aplica-se a todos os Estados membros? Qual é o critério? Quais são as regras?

- Lisboa: e como não há mesmo coincidências, para terminar de pintar o quadro desta semana algo surrealista, eis que surge o ministro das Finanças, Mário Centeno, a referir-se a um segundo resgate, mesmo negando o cenário... E eis que aparece, de imediato, o primeiro-ministro, António Costa, a sugerir a Passos Coelho que vá apanhar Pokémons! Afinal, quem é o Pokémon?

Que país é este? Olhando para este quadro, como convencer os investidores e os mercados a acreditarem na economia portuguesa como um destino viável e com futuro na véspera do Web Summit? Parece óbvio que esta não é a altura para ir apanhar Pokémons.

Jornalista

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