Punhos de esperança no pugilismo chinês

Mao Tsé-Tung não gostava de boxe e proibiu-o na China
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Zou Shiming é muito mais que o capitão da equipa olímpica chinesa de boxe. Traz na bagagem uma medalha de bronze, conquistada nos Jogos Olímpicos de Atenas, há quatro anos.


Na China, onde o boxe esteve proibido durante décadas, todos acreditam que Zou vale ouro. Mao Tsé-Tung não gostava de pugilismo. O "Grande Timoneiro" achava que se tratava de um desporto muito violento e, pior ainda, demasiado ocidental para o seu gosto. Como era o seu gosto que mandava, o boxe foi oficialmente proibido na China, só voltando a ser considerado de novo como modalidade desportiva a partir de 1986.

Foram, portanto, necessárias quase duas décadas para que a China oferecesse ao mundo um atleta capaz de competir com os melhores, com as grande potências do pugilismo olímpico, como Cuba ou os inevitáveis Estados Unidos da América. Zou Shiming tem o corpo de rapazola em idade escolar, altura correspondente e uma cicatriz junto ao olho esquerdo. Calma. O pugilista já explicou oficialmente que aquela marca vem dos seus tempos de escola, quando uma rapariga mais velha gostava de lhe dar umas tareias. No ringue, Zou não é propriamente de ficar com recordações desse tipo dos adversários.

O peso-pluma chinês, evidentemente amador, raramente acaba os seus combates pelo método de KO. Aposta mais nos pontos e numa velocidade estonteante de pés e mãos, o que lhe valeu uma medalha de bronze nas Olimpíadas de Atenas, em 2004.

Com Zou Shiming, o pugilismo readquiriu o fôlego perdido na China. O seu treinador, Zhang Chuanliang - durante a proibição era treinador de artes marciais - foi um dos grandes impulsionadores da modalidade. Junto com o seu melhor aluno, adquiriu experiência de competição em países como o Irão, o Qatar, a República Checa, a Rússia ou Cuba. Zou foi crescendo como pugilista e assumindo-se com um dos grandes nomes mundiais do boxe amador. Aliás, é bicampeão mundial, para ser mais exacto, tendo conquistado o último destes títulos no Campeonato Mundial de Boxe Amador 2007, em Chicago.

Mas foi depois de ter conquistado o bronze em Atenas que a sua vida mudou. Quanto mais não fosse porque uma companhia de telecomunicações lhe ofereceu um telemóvel topo de gama, cujo número termina em 2008, e porque uma marca de automóveis resolveu oferecer-lhe um exemplar, com a matrícula a terminar, surpresa das surpresas, em 2008. O presidente da Associação Chinesa de Boxe não quer pressionar o atleta, mas sobre ele afirmou isto: "O Zou é o único pugilista que é capaz de ganhar uma medalha de ouro para a China." Os restantes elementos da equipa não comentaram, mas sabem que há nisso verdade. A fama de Zou Shiming já o precede. E ele faz como fazia o homem que ele idolatra, "mister Mohamed Ali": sorri.

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