Pulido Valente quer reduzir listas de espera e concorre com privados
O Hospital Pulido Valente está disponível para receber 520 doentes de outros hospitais para combater as listas de espera no Serviço Nacional de Saúde (SNS). Esta unidade pública concorre assim com as do privado a quem o Estado pagou, no ano passado, 36 milhões de euros para resolver a situação através de cheques-cirurgia. De acordo com o presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN), que reúne Santa Maria e Pulido Valente, este último irá aumentar a sua atividade até ao final do ano: mais consultas e cirurgias, mais camas para internamento e um centro de saúde a funcionar lá dentro.
O hospital, sobre o qual até há pouco tempo havia muitas dúvidas relativamente ao seu futuro, já que chegou a ter pouco mais de metade dos edifícios ocupados, irá tornar-se no segundo parque de saúde de Lisboa, a seguir ao que existe na avenida do Brasil, que reúne os hospitais psiquiátricos, o Infarmed e outras unidades de saúde. Carlos Martins, presidente do CHLN, assegura que todos os espaços estarão a funcionar até ao final do ano. "O que vamos ter é o segundo parque de saúde de Lisboa", explicou ao DN, com uma unidade de saúde familiar do Lumiar e mais de 160 camas de cuidados hospitalares (neste caso para responder a hospitais que estão com dificuldades no internamento) - ambas serão geridos pela Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo. A estas juntam-se mais 15 camas de cuidados paliativos e 60 de cuidados continuados, que estão a ser negociadas com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Mas "vamos ainda ampliar a resposta nas consultas de especialidade. Fizemos uma primeira abordagem, com resultados interessantes a nível da psiquiatria. Temos no Pulido uma unidade terapêutica de pedopsiquiatria. Queremos aumentar e diversificar esta resposta", acrescentou.
O hospital na Alameda das Linhas de Torres vai ainda receber o Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), o Serviço de Utilização Comum dos Hospitais (SUCH) com uma central de esterilização que irá servir Lisboa e depois todo o sul do país. Há ainda uma proposta feita à Universidade Nova de Lisboa para a revitalização do edifício Ramiro Ávila.
A renovação do Pulido Valente implica necessariamente algumas mudanças no que toca a serviços e profissionais. Isso mesmo foi confirmado ao DN por Carlos Martins: "Haverá profissionais deslocalizados para trabalhar no Santa Maria e profissionais do Santa Maria que serão deslocados para trabalhar no Pulido Valente". O importante é que a unidade, que hoje já tem cerca de 70% dos seus edifícios a funcionar, nomeadamente com os serviços de pneumologia, cardiologia, cardiotorácica, medicina interna, reabilitação, pedopsiquiatria, farmácia, serviço de sangue, imagiologia, bloco operatório e consultas externas, continue a sua atividade para atingir o objetivo que agora se propõe: reduzir as listas de espera do SNS.
Mais horas de bloco operatório
Para isso, o bloco operatório vai ter de trabalhar mais horas. "Vamos continuar a apostar na cirurgia de ambulatório, que tem sido uma área de sucesso no último ano. E iremos trabalhar em produção adicional para aumentar o contributo na resolução das listas de espera. Estamos disponíveis para receber 520 doentes de listas de espera de outras instituições do SNS", revelou. Nesta primeira fase, serão doentes "de cirurgia geral, cardiotorácica, cirurgia pediátrica, otorrinolaringologia e ginecologia. E esperamos ter, até ao fim do ano, uma segunda e terceira fases com mais especialidades em produção adicional". Em março deste ano, havia 7486 pessoas inscritas para cirurgia e nos primeiros três meses do ano realizaram-se 5514 operações, com um aumento em relação a 2015 nas de ambulatório.
Carlos Martins esclareceu que com este projeto "não vamos aumentar a nossa lista de espera, nem perturbar os planos internos. A questão foi negociada com os diretores de serviço e chefias de enfermagem e tem a ver com a nossa disponibilidade em produção adicional. Foi por isso que não abrimos a possibilidade a todas as especialidades, algumas ainda criticas para nós." O responsável adiantou que não é apenas nas cirurgias que a produção tem aumentado: houve mais partos, taxa de cesarianas está nos 24%, mais primeiras consultas (perto de 139 mil, o que corresponde a um aumento de 5,5% em comparação com período homólogo, mais atendimentos nas urgências pediátrica e de obstetrícia. "O nosso crescimento é fruto de um conjunto de mudanças, algumas políticas, mas também da capacidade de resposta, condições e apoio às famílias", argumenta.