Pujança brasileira renovada na senda do Cinema Novo
O filme coreano Family Ties, de Kim Tae-Young, e o iraniano On a Friday Afternoon, de Mona Zandi Haghighi, ganharam os grandes troféus do 47.º Festival Internacional do Filme de Salónica (Nordeste da Grécia), que decorreu entre os dias 17 e 26: Alexandre de Ouro/Melhor Filme e Prata/Prémio Especial do Júri. Mas levou três prémios o brasileiro O Céu de Suely, segunda ficção longa de Karim Aïnouz (Madame Satan), co-produção com Alemanha/França/Portugal. Além disso, o cinema brasileiro, de novo em alta, foi alvo da secção paralela Cinema em Transe (a par da cinematografia chinesa).
Para O Céu de Suely foram dois prémios do júri da competição internacional: Melhor Argumento e Direcção Artística. E ainda o Prémio da Crítica, com o júri FIPRESCI presidido pelo crítico brasileiro José Carlos Avellar. Entre 14 títulos a concurso, tudo primeiras e segundas obras (sobretudo asiáticas), destaque para essa ficção entre urbana e suburbana, de S. Paulo à cidadezinha remota, seguindo uma jovem mãe (Hermila Guedes) abandonada, nem anjo etéreo nem vítima plangente, com sopro poético narrativo a sobrevoar o realismo sujo.
Fora de competição foram exibidos - e debatidos quando havia criadores presentes - 18 títulos, dos anos 60 às últimas produções, incluindo o candidato do Brasil a nomeação para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, Cinema, Aspirinas e Urubus, de Marcelo Gomes. Cinema em Transe (designação-homenagem a Terra em Transe de Glauber Rocha e, por extensão, ao marcante Cinema Novo) esteve entre os segmentos incontroversos do vasto programa (mais de 200 filmes e mercado, exposições multimédia e fotográficas, etc.). Programa que podia ter sido opção da direcção cessante, de Michel Demopoulos-Theo Angelopoulos, substituídos por Despina Mouzaki , ex-executiva do Centro do Filme Grego e George Corraface, conhecido actor.
Os novos filmes atestam grande vitalidade, em caleidoscópio estético. Do pouco visto cá (como Central do Brasil e A Cidade de Deus) a obras tão diversas e admiráveis como Lavoura Arcaica, de Luiz Fernando Carvalho segundo Radouan Nassar, ou o citado Cinema, Aspirinas e Urubus, on the road pelo sertão de 1942. Em mesa-redonda, os participantes reivindicaram a herança do Cinema Novo, até na aventura de produzir.
* O DN viajou a convite da organização