PSP em peso no último adeus
A presença de milhares de polícias e tiros de salva à porta dos cemitérios fizeram parte da homenagem, ontem, aos dois agentes baleados à queima-roupa na madrugada de domingo, na Amadora. As cerimónias fúnebres na Guarda e em Gondomar ficaram marcadas por muita emoção e, acima de tudo, um gran-de sentimento de revolta.
Três tiros de salva em "funeral-arma" à porta do cemitério municipal da Guarda, palmas sentidas, crachás da PSP envoltos em fitas negras sinónimo de luto da corporação, milhares de polícias num cortejo de silêncio - eis a última homenagem, na cidade onde nasceu e cresceu o agente António Carlos Fernandes Abrantes, 29 anos.
Nas exéquias fúnebres marcaram presença, para além de todos os comandos distritais da PSP, o secretário de Estado adjunto da Administração Interna, José Magalhães, a presidente da Câmara Municipal da Guarda, Maria do Carmo Borges e também o autarca da Amadora, Joaquim Raposo.
O autarca da Amadora, o único que ontem à tarde prestou declarações aos jornalistas, disse "la-mentar profundamente estes acontecimentos", e reiterou a necessidade da tutela olhar para o seu concelho de forma diferente "quer em termos sociais quer em termos de segurança". Concluiu "A minha presença é um gesto de solidariedade em relação à PSP no seu conjunto e à família dos agentes mortos em particular."
Neste funeral marcou também presença o director nacional adjunto da PSP, Coelho Lima, bem como o director nacional adjunto da Polícia Judiciária, Pedro Carmo.
À porta do cemitério municipal da Guarda, após o cortejo fúnebre feito a pé desde a Igreja da Misericórdia, era visível a revolta de muitos polícias que, em pouco tempo, assistem à trágica partida de mais um colega. A custo, abafavam as lágrimas e a dor.
Inicialmente eram apenas algumas centenas as pessoas que se aglomeravam junto ao cemitério de Baguim do Monte, em Rio Tinto, Gondomar, para o último adeus a Paulo Jorge Alves, de 23 anos, mas à chegada do cortejo fúnebre atingiram certamente o milhar.
De Lisboa saíram dois autocarros com cerca de cem agentes da PSP, que fizeram questão de prestar a última homenagem ao colega. Muitos não conseguiam esconder a emoção, materializada em lágrimas, sinal também da revolta que grassa no interior daquela força policial. "Sentimento de revolta contra tudo e contra todos, é muito triste estarmos a passar por isto", disse ao DN uma agente da divisão da Amadora, que preferiu não ser identificada.
Segundo esta polícia, que falava sem disfarçar a indignação, "tem de mudar muita coisa, principalmente na Amadora" - "a pior e mais perigosa [divisão] do País", de acordo com outro agente, que garante que os patrulhamentos nos bairros são feitos por um único indivíduo "Conta-se que andamos acompanhados, mas a verdade é que andamos sozinhos", afirmou. "Hoje é aqui, amanhã onde é que será? Esperamos que sejam os últimos..", dizia a agente, logo secundada por um colega menos esperançoso: "Não vai ficar por aqui."
António Costa, ministro da Administração Interna, Herlander Chumbinho, adjunto do director nacional da PSP, a direcção da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia, entre outros, marcaram presença na cerimónia. António Costa preferiu não fazer declarações "Esta é a altura ideal para respeitarmos a dor de da família e dos amigos."