Psicólogos analisam Noddy, Ruca e Bob, o construtor

Pediatras e psicólogos evidenciam as profissões práticas (Paulo é carteiro, Noddy é taxista e Bob é construtor) dos desenhos animados e "preocupações ecológicas" das personagens. <br />
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O psicoterapeuta Vasco Catarino Soares indica a escolha de trabalhos "não tanto intelectuais" para que as crianças os percebam e o pediatra Mário Cordeiro recorda que o Noddy, criado por Enid Blyton e que sexta-feira se torna sexagenário, "representa a realidade de uma aldeia".

Já o recente Bob mostra "preocupações ecológicas, de solidariedade e trabalho em equipa", descreve o médico.

Para o Francisco, de quase três anos, Bob é qualquer trabalhador da construção civil. Portanto, quando passa por uma obra, pergunta à mãe "o que é que os 'Bobs' estão a fazer".

Sílvia nota como é "fácil" o filho identificar a profissão, por ser um trabalho que encontram quase todos os dias.

O psicoterapeuta Vasco Catarino Soares recorda ainda que o "abstracto é pouco perceptível" para os mais pequenos.

Quando os autores têm "preocupações pedagógicas" e consultam especialistas, a atribuição de profissões pode "ajudar na inserção social futura, difundir a ideia de que o homem se realiza pelo trabalho, proporcionar prazer e alegria através da 'obra feita'", diz.

Mário Cordeiro recorda, por seu lado, que muitos dos personagens foram criados quando a realidade e o contexto social eram "completamente diferentes" e, por isso, não encontra uma "determinação objectiva na escolha dos heróis".

"O Noddy representa a realidade de uma aldeia, com os seus diversos protagonistas: o polícia, a senhora dos gelados, o mecânico", realça.

Qualquer desenho animado ou história infantil tem como "eixo apresentar e ajudar as crianças a formar noções sobre o seu percurso de vida, sobre o bem e o mal, sobre a estruturação de si mesmos, no sentido de se aperfeiçoarem no domínio técnico, do conhecimento social, de se conhecerem interiormente e de criarem factores protectores".

"Em suma, de crescerem e ganharem autonomia e maturidade", resume o pediatra.

Ao "beber" o que se passa à sua volta, as crianças podem identificar-se com o trabalho dos heróis e com o dos pais, nomeadamente se tiverem "profissões de trabalho mais físico e de fácil compreensão", diz Vasco Catarino Soares.

"Todavia, em grande parte, as profissões actuais são do tipo mais intelectual e complexas de entender para uma criança, não permitindo assim que esta se identifique", realça.

Os heróis não envelhecem e as respostas sobre o que se quer fazer quando se crescer também não. Há muitas crianças a desejarem ser "bailarinas e bombeiro/policia", mas há novas opções apresentadas pelas séries de animação.

"O importante para que a criança goste delas é que exista um trabalho prático, perceptível e que proporcione algum heroísmo/glória para as necessidades de auto-estima", diz o psicoterapeuta.

Para Mário Cordeiro, as crianças "sonham" com o que lhes é apresentado como "modelo, decorrente do tecido social e do ambiente familiar e cultural em que se integram".

Mas há uma idade de reforço da identidade sexual, que nas meninas passa pelos "PPP - princesas, pirosas e pespiretas", numa gestão do "ser e parecer", enquanto nos meninos há a "afirmação do ter (espadachins) como referência à sua dimensão fálica".

"O desafio e a ousadia extremam as opções, sobretudo deles. O cuidar - enfermeiras e médicas de bebés - está muito na mente das crianças, mais na delas, mas também na deles", considera o pediatra.

Observações de especialistas que para os pais também soam a familiares, tal como os "Bobs".

PL.

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