Psicóloga de 29 anos que já perdeu a conta aos empregos

Ainda não fez 30 anos, mas já perdeu a conta aos empregos que teve desde que começou a ganhar dinheiro, aos 16,  na Zara do Oeiras Park. Um coup de foudre , em Dublim, na Páscoa de 2001, levou-a a viver três anos em Paris. Esteve ao balcão de uma perfumaria, fez coffrets de cosméticos e angariou parceiros para as caixas-prenda da Smartbox. Roída de saudades dos cafés 'Delta' e da 'Super Bock', regressou a Lisboa. Preparava-se para voltar aos perfumes quando lhe telefonaram de França, a desafiá-la para abrir a Smartbox em Portugal
Publicado a
Atualizado a

Claro que sei!", respondeu a Pierre Edoaurd quando há três anos exactos o dono da Smartbox lhe perguntou se ela sabia fazer um business plan, depois de a ter desafiado a abrir a operação portuguesa desta multinacional líder no mercado do turismo de experiências.

Psicóloga, Filipa sabia diagnosticar uma depressão, vender perfumes, compor um atraente coffret de cosméticos e angariar parceiros para uma das caixas-prenda da Smartbox (onde tinha trabalhado em Paris) - mas estava a milhas do que era fazer um business plan.

"Tu és maluca! Não vais conseguir fazer um business plan numa semana. As pessoas passam cinco anos na faculdade a aprender a fazer um", disse-lhe, quase em pânico, Arthur, o namorado licenciado em Gestão, quando ela chegou a casa e lhe pediu ajuda. "A faculdade é para nos divertirmos com os amigos e andar nos copos. Eu estou a falar de aprender mesmo", retorquiu Filipa.

Como é bom de ver, fez o business plan, cujo sucesso é aferível em números: no primeiro ano facturou três milhões de euros e em 2010 vai fazer mais de 12 milhões, vendendo 200 mil caixas-prenda, em mil pontos de venda espalhados pelo País.

O caminho de Filipa foi sinuoso, mas o seu horizonte é radioso. Filha de um bancário do Borges & Irmão e de uma directora comercial da Oracle que tinha 19 anos quando a trouxe ao mundo, herdou da mãe a precocidade e o carácter desempoeirado.

Em miúda quis ser professora ("Era uma figura de poder", explica) antes de se lhe ter metido na cabeça que queria ser psicóloga criminal. Inscreveu-se no ISPA, onde corrigiu a rota, do ramo clínico para o social, mal concluiu que não estava disposta a passar o resto da vida a ouvir os problemas de bipolares, deprimidos, esquizofrénicos e ofícios correlativos.

O primeiro dinheiro já o tinha ganho na Zara do Oeiras Park, ainda adolescente de 16 anos: 40 contos/mês em troca da energia e boa vontade de fazer tudo com boa cara e eficiência, desde atender ao balcão até dobrar a roupa, lavar o chão e tratar dos inventários.

A vida dela levou uma volta na Páscoa de 2001 quando se meteu num avião para Dublim, para visitar a mãe (que a Oracle destacara para a Irlanda), e se apaixonou por um colega dela, o francês Arthur. Foi coup de foudre. Voltou, acabou o curso, fez um estágio na Publicis e assim que o namorado conseguiu a transferência, juntaram-se em Paris.

Arranjou emprego numa perfumaria de uma brasileira, na Rue de Rivoli, e desatou furiosamente a aprender francês. Em casa, fazia ditados, lia o jornal e seguia as novelas. No metro, estudava a gramática. Como não é de estar muito tempo parada num sítio, durante os seus três anos parisienses ainda fez coffrets de perfumes para a Lancaster, antes de ir angariar parceiros para as caixas-prenda da Smartbox.

Farta de uma vida métro, boulot, dodo, de ganhar mal, habitar num cubículo num 6.º andar sem elevador - em que era um pesadelo levar as compras para cima e esquecer-se de alguma coisa em casa era um drama - e roída de saudades dos cafés Delta e da Super Bock, regressou a Lisboa, onde passou por uma agência de marketing ("Não tinham andamento para mim", explica) e estava para ir trabalhar para Clarins ("Adoro a indústria de cosméticos", confessa) quando o telefone tocou. Era Pierre Edouard a desafiá-la para abrir a Smartbox em Portugal - e a perguntar-lhe se ela sabia fazer um business plan.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt