«Ninguém porá o pé em cima do PPD/PSD»

Publicado a
Atualizado a

Pedro Santana Lopes encerrou o XXVI Congresso do PSD em duas fases. Primeiro, na madrugada de ontem, para responder, ponto a ponto, à intervenção do ex-ministro dos Assuntos Parlamentares Marques Mendes, o único dos críticos a ir a Barcelos apontar o dedo à estratégia da liderança. Para tentar captar a confiança dos militantes, que, ao longo de dois dias, foram aplaudindo a ideia de o partido ir a votos, em 2006, sozinho, sem o aliado CDS/PP, o líder laranja gritou do púlpito: «Confiem em mim. Nunca deixarei que ponham o pé em cima do PPD/PSD.» O povo social-democrata aplaudiu, como já tinha aplaudido Mendes quando defendeu listas separadas em 2006...

Quase 12 horas depois, já na sessão de encerramento propriamente dita e consagrado líder pelo voto dos delegados, Santana pediu de novo «confiança» - a palavra-chave que apareceu no cenário do congresso. Agora a confiança era pedida não só aos militantes da casa social-democrata mas aos portugueses. Confiança na sua governação e nas medidas que tem vindo a propor: «Confiem em nós. A confiança é fundamental para haver maior investimento, para os trabalhadores terem mais segurança.» Aliás, o líder do PSD e primeiro-ministro «gastou» grande parte do seu discurso de uma hora a explicar as medidas previstas no Orçamento de Estado e repetiu a promessa de, «mantendo o rigor e a exigência» (uma das alfinetadas que Marques Mendes lhe deixara na véspera), não pedir «mais sacrifícios» aos portugueses «só para satisfazer» a oposição. Depois de dois anos em que o seu antecessor, Durão Barroso, o fez, Santana Lopes acha que é tempo de aliviar um pouco o «cinto» dos contribuintes. E elegeu o combate à evasão fiscal como uma das principais bandeiras para «os dois anos duros» que se aproximam, apesar de a economia dar alguns sinais de recuperação.

No combate à evasão fiscal, os princípios são claros e a frase é lapidar: «Quem mais pode tem que pagar mais. Quem leva uma vida desafogada não se pode eximir das suas obrigações perante o fisco.»

O rumo parece definido para Santana Lopes. Mais produtividade, mais crescimento, com mais justiça social. Para essa «tarefa gigantesca», o primeiro-ministro conta «com todos». Incluindo a oposição e o PS, para obter maiorias alargadas no Parlamento. Que permitam acordos em áreas importantes, como a Justiça ou para a criação da entidade reguladora da comunicação social. Sem desrespeitar a liberdade de expressão, embora a «liberdade acabe onde começa a liberdade do outro», afirmou.

Santana também pediu paciência a todos porque «os resultados, para serem sólidos, demoram tempo a aparecer». E porque sabe que o ambiente na opinião pública não é o mais favorável ao Governo PSD/CDS, o líder social-democrata tentou passar a mensagem de «esperança e fé» e disse que não quer «um País de mau astral».

resposta a mendes. Algumas das ideias fortes lançadas na sessão de encerramento já haviam sido expressas por Santana na madrugada de ontem, horas depois de Marques Mendes ter lançado fortes críticas à estratégia da direcção santanista - o rumo económico e as alianças com o CDS. Com um congresso sensível a ir às eleições sem o PP, Santana Lopes tentou sossegar os ânimos, após duas derrotas da coligação governamental, primeiro nas europeias de Junho e depois nas regionais de Outubro nos Açores. O líder compreende que «o partido esteja cansado em não respirar sozinho», mas deixou a promessa solene. «Nunca deixarei ninguém pôr o pé em cima do PPD/PSD». E recorreu à velha máxima de Sá Carneiro - primeiro o País e só depois o partido - repetindo que a coligação era para cumprir o mandato até ao fim. Quanto ao mais, alianças pré ou pós-eleitorais, nada disse.

Depois, a Marques Mendes, que atacou o rumo do Governo, lembrou que essa opção fora tomada «há meses», quando ainda Durão chefiava o Governo e Mendes era ministro... Além disso, com a consolidação orçamental conseguida, Santana Lopes respondeu, indignado, a quem fala em inconsciência nas suas opções mais polémicas, como a descida de impostos. «Colem-me todos os rótulos, menos o rótulo de inconsciente», afirmou.

Aos críticos que não foram a Barcelos - Marcelo Rebelo de Sousa ou Manuela Ferreira Leite - Lopes afirmou estranhar porque ficaram em casa. A estratégia era conhecida há muito. «Quem discordasse, que viesse disputar a liderança.»

Num discurso carregado de emoção, Santana acenou com a ambição de estar no poder até 2014, o que representaria mais duas vitórias eleitorais. «Em 2014, quero estar a dizer, como Cavaco Silva, mudámos Portugal.»

Ontem, ao contrário do que aconteceu no congresso de Oliveira de Azeméis, Paulo Portas não foi a Barcelos. O ambiente no PSD já foi mais favorável a esta AD.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt