PSD ultrapassa PS, mas só há maioria à Direita com o Chega

Sociais-democratas crescem à custa dos Liberais e Chega mantém terceiro lugar. Socialistas perdem 13 pontos face às últimas eleições legislativas.
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O PSD de Luís Montenegro (28,6%) ultrapassou o PS de António Costa (28,3%). São escassas três décimas, num cenário em que os socialistas também estancam as perdas e até registam uma pequena recuperação face a janeiro passado. De acordo com a sondagem da Aximage para o DN, JN e TSF, o Chega mantém-se num sólido terceiro lugar (12,1%). Bem mais para baixo surge o BE (6,3%), que ultrapassa a Iniciativa Liberal (6,1%). Segue-se o PAN (4,5%), que parece ressurgir das sombras, ao contrário da CDU (3,5%), que se afunda um pouco mais. Fecham a tabela o Livre (2,7%) e um agonizante CDS (1,3%).

A sondagem dá indicações contraditórias sobre a capacidade de Luís Montenegro de conduzir o PSD à vitória nas legislativas (que, por enquanto, são virtuais). Se compararmos com a última pesquisa da Aximage, em janeiro passado, os sociais-democratas crescem quase quatro pontos percentuais (copo meio cheio). No entanto, se a comparação se fizer com as últimas eleições legislativas, ainda está meio ponto abaixo (copo meio vazio).

São, igualmente, duvidosas as conclusões que se podem retirar relativamente à construção de uma alternativa. Se utilizarmos a terminologia que Marcelo Rebelo de Sousa impôs no espaço público, é certo que existe uma alternativa aritmética à direita. Somados os resultados do PSD, do Chega, da Iniciativa Liberal e até do CDS, daria 48 pontos percentuais, mais do que suficiente para uma maioria parlamentar. Até porque a Esquerda (PS, BE, CDU e Livre) só ficaria umas décimas acima dos 40 pontos.

A situação é bem diferente quando se fazem as contas a uma alternativa política (ou seja, na terminologia do presidente-comentador, sem a extrema-direita do Chega): o resultado conjugado de PSD, Liberais e CDS seria de 36 pontos percentuais (os mesmos que em janeiro passado, uma vez que os ganhos do PSD são equivalentes às perdas da IL). Mas talvez seja importante começar a olhar para o PAN, o partido que diz que não é de Esquerda nem de Direita. Aqui somados, já daria para ultrapassar os 40 pontos.

Ainda assim, o copo de Montenegro está, agora, mais cheio do que o copo de Costa, facto quase inédito nesta série de barómetros (desde julho de 2020, o PS esteve sempre na frente, com uma única exceção, em plena campanha eleitoral para as legislativas de 2022). Os socialistas estão muito longe da maioria absoluta. Mesmo que tenham ganho 1,2 pontos face à última sondagem, estão mais de 13 pontos abaixo do que conseguiram nas últimas eleições.

Não se vislumbra, sequer, uma alternativa aritmética à esquerda (e ainda menos uma alternativa política): a soma da antiga geringonça ficaria por 38 pontos. Se lhe juntarmos o Livre, chegaria aos 40. Mesmo com o PAN, seriam 45 pontos. Menos do que a metade mais à direita do hemiciclo (48 pontos), que está na frente desde outubro do ano passado.

Outra das leituras possíveis desta sondagem é que o país se continua a afastar da hegemonia do chamado Bloco Central. Nas últimas legislativas, PS e PSD valiam 69 pontos percentuais e mais de dois terços dos deputados. Apesar de alguma recuperação, ficariam, agora, pelos 57 pontos. O reforço da fragmentação partidária nestas eleições virtuais é uma evidência. Sendo certo que o terceiro lugar tem um dono incontestado: o Chega, de André Ventura, até perde umas décimas face ao barómetro de janeiro passado, mas continua a ser o partido com maior crescimento, se a comparação se fizer com as últimas eleições (mais cinco pontos).

Daí para baixo também há movimentações, embora, em alguns casos, de apenas escassas décimas. Com destaque para o PAN de Inês Sousa Real que, depois de uma descida até ao patamar do deputado único, nas últimas legislativas, parece ensaiar um ressurgimento. É o segundo partido que mais cresce de janeiro para abril (mais 1,4 pontos) e, ainda mais significativo, é o segundo que mais cresce relativamente às últimas eleições (mais 2,9 pontos).

Ainda assim, o partido ambientalista e animalista continua abaixo do Bloco de Esquerda, que ganha 1,9 pontos face às legislativas, e da Iniciativa Liberal que, apesar de continuar acima do que conseguiu nas eleições (mais 1,2 pontos), acusa a mudança de líder (a troca de João Cotrim Figueiredo por Rui Rocha coincidiu com uma perda de 3,4 pontos entre as sondagens de janeiro e abril deste ano).

Também a mudança de líder dos comunistas não parece trazer boas notícias: quase seis meses depois de Paulo Raimundo ter sido escolhido para secretário-geral, o PCP (ou CDU, a sua marca eleitoral) afunda-se para os 3,5%, perdendo 1,3 pontos face a janeiro deste ano e quase um ponto relativamente às legislativas. Ao ponto de já se ver ameaçado pelo Livre de Rui Tavares que, apesar de também estar em queda este ano, cresce 1,4 pontos face às eleições de 2022.

Do CDS, o último na tabela, há pouco para dizer. Um ano de liderança de Nuno Melo não acrescentou nada, pelo menos em termos de intenções de voto. Continuaria, provavelmente, de fora do Parlamento.

É mais uma situação inédita nos barómetros da Aximage para o DN, JN e TSF: não há um único líder partidário com saldo positivo na apreciação dos portugueses. Estão todos no vermelho, ou seja, com mais avaliações negativas do que positivas. Com António Costa em destaque: porque é, nesta altura, o pior classificado, com um saldo de 31 pontos negativos, e porque, há apenas um ano, conseguia um saldo positivo de 19 pontos. Ou seja, no espaço de um ano, sofreu uma queda vertiginosa de 50 pontos.

O secretário-geral do PS entrou em terreno negativo a partir julho do ano passado, deixando, então, acima da linha de água um único líder partidário, João Cotrim de Figueiredo, da Iniciativa Liberal, que assim se manteve até janeiro passado. Sucede que o novo líder, Rui Rocha, não tem direito a estado de graça e marca a sua estreia nos barómetros com saldo negativo (cinco pontos) e com uma queda nas intenções de voto (de 9,5% em janeiro ainda com Cotrim, para os 6,1% de abril).

Quem também já anunciou a saída foi a coordenadora do Bloco, Catarina Martins, que, por isso, se despede destes barómetros, não só com um saldo negativo (14 pontos), como a perder gás. Mas a maior queda na vaga de abril é a de Paulo Raimundo, secretário-geral do PCP. Aparentemente, a maior notoriedade resultou numa maior taxa de rejeição: passou de um saldo negativo de 15 pontos (em janeiro) para 28 pontos (em abril).

Quando se coloca o foco na avaliação do eleitorado de cada partido ao seu respetivo líder, percebe-se que o mais consensual é André Ventura, do Chega, que recebe nota positiva de nove em cada dez. No outro lado da escala e, portanto, em posição incómoda, está Luís Montenegro: só um terço dos eleitores sociais-democratas lhe dá nota positiva. Tem um longo caminho para percorrer até para convencer os seus de que encabeça uma alternativa política.

rafael@jn.pt

FICHA TÉCNICA

A sondagem foi realizada pela Aximage para o DN, TSF e JN, com o objetivo de avaliar a opinião dos portugueses sobre temas relacionados com a atualidade política.

O trabalho de campo decorreu entre os dias 10 e 14 de abril de 2023 e foram recolhidas 805 entrevistas entre maiores de 18 anos residentes em Portugal.

Foi feita uma amostragem por quotas, obtida através de uma matriz cruzando sexo, idade e região (NUTSII), a partir do universo conhecido, reequilibrada por género, grupo etário e escolaridade. Para uma amostra probabilística com 805 entrevistas, o desvio padrão máximo de uma ​​​​​​​proporção é de 0,017 (ou seja, uma "margem de erro" - a 95% - de 3,45%). Responsabilidade do estudo: Aximage Comunicação e Imagem, Lda., sob a direção técnica de Ana Carla Basílio.

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